Como fazer corretamente a rotação de culturas

Rotação de Culturas

Quem gosta de cultivar os seus próprios alimentos de modo biológico, certamente que já ouviu falar de “Rotação de Culturas”. Faz parte do manual das boas praticas do cultivo biológico. Talvez esteja familiarizado com o “principio” da rotação de culturas e talvez o aplique na sua horta. Contudo, nem todos sabem como funciona, para que serve e a forma correta de fazer. Neste artigo, vamos explicar tudo o que precisa saber sobre esta prática fundamental para uma horta produtiva e saudável.

A rotação de culturas assenta num princípio lógico que a natureza nos ensinou. Na natureza, onde nada vem acrescentar-se vindo de fora, são as próprias plantas que fornecem ao solo os nutrientes para o desenvolvimento da próxima geração vegetativa.

De facto, todas as plantas recebem da terra os elementos nutritivos de que necessitam; plantas diferentes requerem nutrientes diferentes para poderem crescer sadias. Mas onde é que as plantas vão encontrar, na natureza, os alimentos de que precisam? Vão buscá-los um pouco à decomposição das plantas mortas no ano anterior, um pouco às folhas que as árvores em volta deixam cair e um pouco às raízes de algumas plantas mais «generosas» que fornecem ao solo nutrientes úteis durante o seu período vegetativo.

Naturalmente, se uma planta crescesse e se alimentasse sempre no mesmo sítio, acabaria por esgotá-lo. Mas se, ao caminhar pelo campo, observarmos bem a disposição das plantas bravias, vamos perceber que de um ano para o outro, existem deslocações na localização. De facto, aproveitando-se da previdência natural que as leva a gerar um número de sementes muito superior à efetiva necessidade de reprodução, as plantas bravias expandem-se, espalhando as suas sementes em todas as direções, à procura dum local onde o solo lhes forneça precisamente os nutrientes mais apropriados.

Até ao advento dos fertilizantes químicos que promoveram o cultivo intensivo de uma só cultura no mesmo solo, os agricultores imitavam a natureza e a rotação de culturas estava na base da agricultura tradicional. A agricultura biológica veio recuperar essa prática e pretende imitar a natureza.

Rotação de Culturas

Nas nossas hortas, podemos e devemos seguir as regras da natureza. Precisamos ter consciência as plantas hortícolas possuem necessidades diferentes: retiram do solo certos elementos de que se alimentam e cedem-lhes outros. São mais ou menos exigentes em estrumes. O sistema radicular difere de uma para outra espécie. Algumas tem raízes curtas e fasciculadas, outras têm raízes muito compridas que retiram das camadas mais profundas do solo os elementos minerais que utilizam, ou que colocam a disposição da cultura seguinte pelo facto de que trazem estes elementos para a superfície.

É fácil concluir que, assim como na natureza selvagem, se cultivarmos a mesma espécie de planta ano após ano, no mesmo sítio, vamos causar o esgotamento dos nutrientes do solo nessa área. Por isso, a rotação de culturas tem uma grande importância no método de agricultura biológica, principalmente por razões de fertilidade e sanidade do solo e das culturas.

Vantagens da rotação de culturas

As principais vantagens da rotação de culturas são:
– Melhora as características físicas, químicas e biológicas do solo;
– Aumenta a produtividade;
– Reduz a necessidade de matéria orgânica;
– Elimina e/ou diminui do risco de pragas, doenças – alguma pragas e doenças, próprias de diferentes culturas, conseguem sobreviver no solo de uma época para a outra, depois da colheita. Se cultivarmos a mesma espécie, ou outra da mesma família e sensível às mesmas pragas e doenças, no mesmo talhão, corremos o risco de ter a cultura contaminada na época seguinte com a mesma praga ou doença.

Regras básicas da rotação de culturas

Dependendo do espaço da sua horta, existem várias formas de fazer rotação de culturas e com durações diferentes, 1, 2, 3 ou mesmo 4 anos. Também é possível fazer rotações no mesmo ano com culturas de verão e de inverno ex: alfaces na primavera seguidas de nabos no inverno.

 Todas as formas de rotação de culturas, exigem ter em conta algumas regras básicas:

– Não repetir plantas que tenham doenças e pragas comuns. Exemplo: couve, nabo e brócolo – São da mesma família e têm as mesmas doenças e pragas.

– Evitar rotações de culturas de hortaliças que tenham as mesmas exigências de nutrientes. Exemplo: nos talhões onde foram cultivadas favas, ervilhas, grão, ou feijão, a terra fica mais rica em nitrogénio. Então, na rotação seguinte, devemos cultivar plantas exigentes em nitrogénio como: couve, cenoura, alho-francês, melão, abóbora, espinafre, pepino, aipo entre outras. Na rotação seguinte, cultivamos plantas menos exigentes como: beterraba, cenoura, endiva, nabo, rabanete, alho, cebola. Depois, cultivamos plantas pouco exigentes, mas capazes de enriquecer o solo: fava, feijão, lentilha, ervilha, soja. Estas leguminosas fornecerão nitrogénio ao solo.

– Alternar plantas entre hortaliças de frutos, folhas e raízes uma após a outra. Exemplo: evitar beterraba (raiz), nabo (raiz), e cenoura (raiz).  São de famílias distintas, mas extraem do solo o mesmo tipo de nutrientes e podem favorecer o aparecimento e permanência do mesmo tipo de pragas e doenças.

– Não repetir plantas da mesma família. Veja aqui a classificação das famílias das hortaliças.

Família das hortaliças

Como planear a Rotação de Culturas

A primeira coisa a fazer é planificar a sua horta para determinar a sequência adequada de rotação. Divida o terreno em talhões, frações, parcelas, camas etc. Pense nas variedades que quer cultivar. Divida-as em grupos. O número de grupos vai determinar o número de parcelas.

Devemos levar em consideração várias características ao classificar as plantas em grupos as plantas que queremos na nossa horta. Quanto mais aspetos forem levados em consideração (mesmo que tenha que «perder» um pouco de tempo para fazer isso), melhor será a rotação.

Para auxiliar a dividir as plantas por grupos, deixamos de seguida algumas indicações:

Raiz: alho, cebola, funcho, nabo, batata, rutabaga, rabanete, rabano, beterraba, cherovia, cenoura
Fruto (ou flor, ou caule): beringela, curgete, abóbora, chuchu, melão, melancia, pepino, pimento, tomate, couve-flor, brócolos
Folha ou caule: couves, alho-francês, acelga, ruibarbo, aipo, espargos, repolho, salsa, couve-de-Bruxelas, endívia, espinafre, alface, rúcula.
Sementes: fava, ervilha, feijão, lentilha, grão-de-bico, milho, girassol.

Como fazer a Rotação de Culturas

Rotação de Culturas
Exemplo de Rotações (direitos de imagem: hortas biológicas)

Imaginemos que escolheu 4 grupos de plantas, (fruto, folha, raiz e leguminosa). Vai precisar de 4 parcelas. Em cada uma, realiza culturas de um grupo que vão ser deslocadas para a próxima parcela na época de cultivo seguinte. Relembramos que as rotações podem ser anuais ou por culturas de verão e de inverno.

Pode haver um grupo de plantas «fixas» que não farão parte da rotação, portanto o espaço que ocupam não será levado em consideração no planejamento, pois terão um lugar próprio e nunca serão movidas. Este grupo de culturas fixas podem ser flores, por exemplo, ou culturas neutras – com muito pouca influência na fertilidade do solo – ou com uma taxa de crescimento muito diferente de outras plantas

Faça um registo da rotação das suas culturas, não confie na sua memória.

Alguns exemplos práticos de Rotação de Culturas

Cultura atual

Couves de qualquer tipo.

Cultura seguinte possível

Alho, alho-francês, cebola, curgete, abóbora, pepino, feijão, ervilha, fava.

Cultura atual

Abóboras, pepinos, curgetes.

Cultura seguinte possível

Alho, alho-francês, cebola, espinafre, alface, chicória, acelgas, rabanete.

Cultura atual

Tomate, pimento, beringela, batata.

Cultura seguinte possível

Alho, alho-francês, cebola, alface, chicória, acelga, nabiça, espinafre, cenoura, aipo, fava, ervilha.

Cultura atual

Fava, ervilha, feijão.

Cultura seguinte possível

Couves, nabiça, nabo, alface, chicória, acelgas, espinafre, cenoura, aipo, abóboras,
curgetes, pepino, melão, melancia, meloa, beterraba.

Cultura atual

Alho, alho francês, cebolas.

Cultura seguinte possível

Qualquer cultura exceto plantas da Família das Liliáceas: Alho, alho francês, cebolas etc.

Cultura atual

Cenoura; Beterraba; Nabo.

Cultura seguinte possível

Fava, ervilha, feijão, alho francês, tomate, pimento, beringela.

Esquema de famílias de hortaliças favoráveis e não favoráveis na rotação de culturas

Para entender melhor estes exemplos de rotação de culturas, recomendamos a leitura deste artigo.

Família das Amarilidáceas – alho, cebola, chalota, alho-francês, cebolinho.
Cultura anterior favorável: Brássicas e Cucurbitáceas,
Cultura anterior desfavorável: qualquer Amarilidácea, milho e beterraba.

Família das Fabáceas – feijão, fava, ervilha, grão-de-bico, tremoço, lentilhas.
Cultura anterior favorável: qualquer Amarilidácea.
Cultura anterior desfavorável: qualquer Fabácea.

Família das Cucurbitáceas – meloa, melão, melancia, abóbora, cabaça, chila, pepino, curgete.
Cultura anterior favorável: qualquer Amarilidácea.
Cultura anterior desfavorável: qualquer Cucurbitácea.

Família das Asteráceas – alface, canónigo, chicória, endívia, alcachofra, estragão.
Cultura anterior favorável: qualquer Amarilidácea.
Cultura anterior desfavorável: qualquer Asterácea, Beterraba, couves, nabo, rábano.

Família das Brássicas – Couve-flor, agrião, couve-lombarda, couve-roxa, nabo, couve-de-Bruxelas, brócolo, couves, repolho, rábano, nabo, rabanete, mostarda.
Cultura anterior favorável: qualquer Amarilidácea, espinafre.
Cultura anterior desfavorável: qualquer Brássica, qualquer Cucurbitáceas, aipo, cenoura, feijão, tomate.

Família das Apiáceas – cenoura, salsa, aipo, cominho, erva-doce, coentro, cerefólio, cherovia (pastinaga), endro.
Cultura anterior favorável: qualquer Amarilidácea, milho.
Cultura anterior desfavorável: qualquer Apiácea, beterraba.

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