Sem dúvida que as cenouras (Daucus carota subsp. Sativus), ocupam o primeiro lugar das raízes comestíveis. É a versão domesticada da sua parente selvagem, a cenoura-brava (Daucus carota). A origem geralmente aceite da cenoura-brava, situa-se na Asia Central ou Asia Menor. Foi cultivada na Grécia onde era muito usada na alimentação, com a crença popular de que quem as comesse se tornava de temperamento amável e com uma pele bonita. Ainda hoje se diz que as cenouras fazem os olhos bonitos.
Inicialmente, as primeiras cenouras domesticadas eram amarelas e roxas. Os primeiros registos das tradicionais cenouras cor de laranja surgem na Europa por volta do século XVI. Acredita-se que foi nos Países Baixos que surgiram as primeiras cenouras cor de laranja. As variedades hoje cultivadas, só foram criadas em meados do seculo 19 e só no século 20 é que se conseguiram obter as variedades sem coração rijo. Em 2016 foi publicada a sequência completa do genoma das cenouras e identificado o gene responsável pela elevada e invulgar acumulação de pigmentos carotenoides nas raízes das cenouras.
As cenouras são uma espécie da família das Apiáceas. Planta herbácea, bienal, embora cultivada como planta anual, de raiz fusiforme, grossa, carnuda de cor branca, amarela, laranja, vermelha, roxa e, de sabor adocicado. As folhas são abundantes e muito recortadas. As flores são pequenas e numerosas, geralmente esbranquiçadas, providas de largas brácteas na base, e reunidas em umbelas compostas e as sementes são pequenas de cor cinza-esverdeado, perfumadas e guarnecidas de duas pequenas pontas recurvadas.
Variedades de cenouras
Existem variedade de cenouras de ciclo curto e de ciclo longo. As formas variam consoante a variedade. Podem ser redondas, cilíndricas, cónicas curtas, cónicas compridas etc. Associamos sempre a cenoura com a cor laranja que tem origem nos pigmentos carotenoides. Mas, como já referimos no inicio do artigo, existem mais cores. Existem outros pigmentos que, de acordo com a sua quantidade nas raízes, dão as cores púrpura (antocianinas), vermelha (licopeno) e amarela (xantofilas). Também existem cenouras brancas e pretas.
Onde cultivar cenouras
As cenouras desenvolvem-se bem em locais expostos e soalheiros. No entanto, são exigentes no tipo de solo, principalmente na textura. Os melhores solos para o cultivo de cenouras são os do tipo predominantemente arenoso. Devem ter uma camada arável profunda, devem ser leves, com boa drenagem, ricos, sem pedras, completamente isentos de crosta e bem mobilizados.
Em terras pesadas, argilosas, compactas, ou pobres, as cenouras crescem com dificuldade e tornam-se descoradas, lenhosas, sujeitas a fenderem-se, além de perderem a doçura e ficarem com um sabor forte e desagradável. Também não se desenvolvem bem em solos ácidos. O valor ideal do pH varia entre os 6,5 e os 7,5.
Evite terrenos recentemente adubados ou com estrumes mal curtidos. Além de menos eficientes, sob o ponto de vista nutritivo, induzem um crescimento irregular das raízes, dando origem a cenouras bifurcadas ou ramificadas.
Quando cultivar cenouras
Com um bom planeamento, é possível ter cenouras à disposição durante quase todo o ano: desde a cenoura-baby no início da primavera, até às variedades da época, que se conservam durante parte do inverno. Existem variedades adaptadas a cada período do ano. Convém escolher as variedades em função das suas preferências climáticas e adaptá-las ao período anual mais favorável para conseguir colheitas variadas e constantes.
De uma maneira geral (tendo em consideração as variedades mais comuns), no nosso clima, pode semear-se a cenoura desde fevereiro a setembro, desde que se escolham locais abrigados dos frios do princípio da Primavera, ou então, dos calores do verão. No Norte do país as épocas de sementeiras são em março, maio e setembro, com colheitas desde setembro ate abril. No Centro, semeia-se de fevereiro a novembro e colhe-se de junho a abril; no Algarve, semeia-se de agosto a fevereiro e colhe-se todo o ano.
Pode cultivar cenouras duas vezes seguidas no mesmo espaço. Primeiro as variedades muito precoces e depois, as variedades de ciclo longo.
A rotação das culturas também e importante. Não plante cenouras onde cultivou batatas, beterrabas, cherovias, aipos, beringelas, tomates ou pimentos no ano anterior.
Ciclo vegetativo das cenouras
O ciclo de vida completo a cenoura dura dois anos. No primeiro ano, a planta originária da semente, permanece cerca de 120 dias no solo e produz uma raiz tuberosa que é formada maioritariamente pelo acúmulo de carboidratos elaborados pela fotossíntese realizada nas folhas. Esta é a fase importante para produção para consumo e se arrancam as cenouras do solo. Para produção de sementes, deixamos terminar esta fase em que as folhas secam e o pequeno caule localizado na base das folhas entra em dormência.
A segunda fase do ciclo inicia-se após a quebra natural ou artificial da dormência, induzida por choque frio. A partir daí, em processo que requer grande quantidade inicial de energia acumulada na raiz, forma-se um caule diferenciado que é a haste floral, estrutura que suporta as umbelas (inflorescências) onde se formam as sementes.
Como semear cenouras
As cenouras são habitualmente semeadas no local definitivo, em camas elevadas, vasos ou canteiros bem preparados. A sementeira em viveiro deforma a raiz principal que, após a transplantação, tem dificuldade em crescer direita. Embora possam ser encontradas à venda mudas de cenoura plantadas em viveiro, não aconselhamos a compra. A cenoura deve ser semeada e não plantada.
Prepare sulcos com 1 cm de profundidade com uma distância de 15 cm entre si. Distribua as sementes nos sulcos. Distribua mais sementes na linha do que as necessárias. Posteriormente vão ser desbastadas (mondadas) as plantas mais fracas. Feche os sulcos e regue finamente com o dispersor fino. Até á germinação, mantenha sempre o canteiro húmido.
A temperatura mínima de germinação situa-se entre os 6 e os 8 graus centigrados A germinação ocorre ao fim de 1 a 3 semanas dependendo da temperatura. Em períodos de tempo muito frio, deve proteger o canteiro com estufins ou manta térmica.
Cuidados e colheita
As cenouras precisam de cuidados logo depois de emergirem. Devem ser feitas duas mondas para desbastar e retirar as plantas menos vigorosas. A monda também serve para assegurar a distância adequada entre as plantas que ficam na linha. Deverá desbastar quando as plântulas atingirem 3 a 5 cm, e mais tarde, aos 10 centímetros. É um trabalho que deve ser feito com cuidado, à mão e não com a enxada. Para facilitar a monda, deve regar o sulco antes e depois do desbaste. De preferência, este trabalho deve ser feito ao fim do dia para evitar os riscos de ataques da mosca da cenoura que são atraídas pelo cheiro das folhas.
Além da monda, é também importante manter o canteiro livre de infestantes principalmente na fase da germinação e quando as plantas são mais jovens. Isso vai impedir que tenham de rivalizar com as infestantes quando estão mais vulneráveis.
A rega deve ser efetuada de modo a manter uma humidade constante no solo. Não regue em excesso para que a ramagem não se desenvolva mais do que a própria raiz. Se a rega for errática, isso conduz a formação de cenouras fendidas.
A colheita deve fazer-se com o terreno húmido para não deslocar as cenouras que se mantêm no terreno; tirar sempre as mais grossas. Vão-se colhendo consoante as necessidades de consumo e o tamanho das cenouras desejado. Para obter o tamanho maior, a colheita ocorre 80 a 100 dias após a sementeira. As cenouras que permanecem demasiado tempo no solo ficam fibrosas e perdem qualidade.
As variedades temporãs deverão estar prontas a colher sete semanas depois do semeio, altura em que deverão ter pelo menos 12 mm de diâmetro. As variedades de colheita principal deverão estar prontas a colher 10 a 11 semanas depois do semeio. A maioria das cenouras pode ser colhida a mão, mas use uma forquilha se a terra estiver compactada ou se tiverem raízes muito compridas.
Culturas associadas
No cultivo das cenouras, é possível fazerem-se associações interessantes: cebola, pastinaga, , tomate, rabanete, a maioria das aromáticas, alface e, em particular, as ervilhas constituirão um obstáculo às moscas da cenoura. Também o alho-francês e a cenoura estimulam-se entre si, repelindo os respetivos parasitas. Cultivar cenoura perto do nabo-redondo cria uma estimulação que beneficia as duas culturas.
O contrário acontece com beterraba-roxa. Não é boa companhia para a cenoura.
Pragas e Doenças
A principal praga que ataca as cenouras é a Mosca da cenoura (Psila rosae). Trata-se de uma pequena mosca, com 4-5 mm de comprimento. As moscas fêmeas encontram as cenouras através do cheiro e põem os ovos no solo em volta das plantas. Quando estes eclodem, as larvas brancas escavam até às raízes e comem-nas, causando o apodrecimento da cenoura. Nas plantas jovens, sugam as folhas e causam o enrolamento.
Os terrenos leves e secos são os mais propícios ao desenvolvimento desta praga. Deve, por conseguinte, como primeira medida preventiva, manter-se o solo convenientemente regado. Outra medida preventiva passa por cultivar as cenouras em associação com as plantas referidas acima. Se as medidas preventivas não forem eficazes e a cultura for afetada, não há outra solução a não ser arrancar e destruir toda a colheita afetada. As cenouras também podem ser afetadas por nemátodos, aranhiço-vermelho, várias traças e por alguns ácaros.
Quanto a doenças, existem vários fungos que provocam podridão das plantas em particular das raízes. É uma doença perigosa quando se instala, devendo queimar-se todas as plantas doentes e evitar-se a repetição da cultura no mesmo sítio durante dois a três anos.
Esperamos que estas indicações possam ser uteis para experimentar cultivar cenouras. Vale bem o esforço. As cenouras frescas, sejam elas velhas ou novas, desde que colhidas da terra na altura em que vão ser cozinhadas, sabem incomparavelmente melhor do que as compradas na loja.
