A ervilha (Pisum sativum) é uma das primeiras hortícolas de que há registo que são cultivadas pelo homem. Não há consenso sobre a sua origem. Uns dizem que veio da Etiópia (SHOEMAKER, 1953), outros dizem que veio da Asia, (oeste) ou mesmo do sudoeste da Europa (LAUMONNIER, 1952). O que sabemos é que foram encontradas sementes fosseis da Idade da Pedra na Suíça e na Hungria. Os romanos e os gregos atribuíam-lhe muita importância e usavam-na abundantemente na culinária. Na Idade Média, as ervilhas secas foram essenciais como alimento de inverno.
Hoje em dia está presente em quase todo lado e é uma das culturas hortícolas mais importantes em todo mundo. A produção mundial de ervilhas está estimada em mais de 15 milhões de toneladas. As ervilhas são comercializadas na forma de grão verde, grão seco, grão congelado e vagem verde.
A ervilheira é uma planta anual pertencente à família das Leguminosas. Tem um sistema radicular que se estende entre os 30 e os 100 cm dependendo da variedade. Os caules das ervilhas são herbáceos, angulosos e ocos, de 25 cm a 2 metros e mesmo 3 metros de altura; flores papilionáceas brancas, algumas vezes violáceas, podendo as plantas ser anãs (20 cm) ou de trepar (2 m). As suas vagens, de 4 a 11 centímetros de comprimento, encerram de cinco a dez grãos globosos ou cúbicos, lisos ou rugosos e com uma capacidade de germinação de até 3 anos.
Onde cultivar
As ervilhas são o legume perfeito para cultivar na horta. Dão-se melhor num local exposto e soalheiro, mas não gostam de temperaturas muito altas. São muito resistentes ao frio, sobretudo as variedades de sementes lisas. As zonas preferidas das ervilhas são as de temperaturas primaveris frescas, sem aumentos térmicos bruscos. O calor seco provoca doenças, a queda das flores e endurece as sementes.
A cultura de ervilhas pode realizar-se em diversos solos desde que não demasiado húmidos, e sem estagnação de água, ou seja, solos com boa drenagem, nem muito argilosos, nem muito calcários. Os terrenos argilosos, principalmente se forem planos, podem mais facilmente provocar apodrecimento das sementes por serem fortes retentores de água. Os solos muito calcários dão origem à clorose foliar provocando um escasso desenvolvimento vegetativo e ao endurecimento dos grãos que se tornam de difícil cozedura.
O solo deve ser fértil (com o composto incorporado na cultura precedente). A cultura anterior não pode ter sido uma leguminosa como o feijão ou outra. Faça a rotação de culturas. O pH deve ser neutro ou ligeiramente acido, nunca muito ácido. O valor ideal do pH do solo para o cultivo de ervilhas situa-se entre pH 6,5 e 7,5. Um solo muito ácido origina facilmente irregularidades vegetativas. Preferem solos sem infestantes e não se devem semear novamente no mesmo sítio antes de terem decorrido dois ou três anos.
Também é possível cultivar ervilhas em vasos ao ar livre numa varanda ou terraço. Os recipientes devem ter pelo menos 30 cm de altura. Use um substrato de boa qualidade e equilibrado a nível de nutrientes.
Quando semear ervilhas
A época de sementeira de ervilhas pode variar de acordo com a variedade que deseja cultivar. Ver mais adiante as variedades mais usadas em Portugal. Genericamente podemos dizer que as épocas habituais são:
- Ervilhas-de-grão: sementeira – março-maio, dezembro-fevereiro
- Ervilhas-de-quebrar: sementeira – setembro-fevereiro
Contudo, o período ideal de sementeira pode também variar conforme o tipo de grão, ou se são variedades precoces ou tardias. Se adquiriu as sementes em carteira, siga as indicações especificas indicadas na embalagem para essa variedade. Por outro lado, se tem sementes próprias, lembre-se que as variedades de sementes lisas são as mais resistentes ao frio e, por isso, mais adequadas para a sementeira de Outono; as de semente rugosa, por sua vez, são mais sensíveis ao frio e, por isso, mais resistentes ao calor, mais rusticas e, também, mais açucaradas, sendo o período mais indicado de sementeira na Primavera.
Se gosta de plantar ou semear pelas fases da Lua, as ervilhas semeiam-se no Quarto Crescente.
Em resumo, a principal época de sementeira das ervilhas é a outonal, de outubro a novembro ou mesmo dezembro. A sementeira de primavera faz-se de março a maio em todo o pais, com colheitas de julho a agosto. No Algarve, a sementeira pode efetuar-se, praticamente, todo o ano. De janeiro a abril são semeadas as variedades tardias nos locais mais frios. A sementeira pode continuar ainda nos meses seguintes ate julho, desde que se disponha de água para a rega.
A ervilheira é, entre todas as espécies hortícolas, aquela que germina a temperaturas mais baixas. Algumas variedades de ervilhas conseguem germinar com 3°C negativos. As geadas não as prejudicam grandemente, mas podem, contudo, destruir as flores o que acarreta atrasos na produção. Para o crescimento e desenvolvimento das plantas a temperatura do ar ótima é de 13 °C a 21 °C; temperaturas superiores a 25 °C durante a floração diminuem a produção de vagens.
A faculdade germinativa das sementes da ervilhas atinge três anos no máximo, sendo de 2 anos apenas para as variedades rugosas, em virtude da sua maior quantidade de aguçar.
Como cultivar ervilhas
Deposite duas a três sementes em covas ou regos de 3 a 5 cm de profundidade. Isso vai permitir a seleção da melhor planta, assim que estas iniciarem o seu crescimento. Os rebentos aparecem ao fim de 8 a 12 dias, consoante a época e a profundidade da sementeira.
A primeira sacha aplica-se logo que as plantas apresentem 4 a 6 folhinhas, com a finalidade de desfazer a crosta do solo, eliminar as infestantes e permitir o melhor aquecimento do solo no inverno e a manutenção da humidade na primavera. O número de sachas dependerá da infestação de ervas. É nesta fase que as plantas estão mais vulneráveis. Quando as ervilheiras atinjam um palmo e meio a sacha é acompanhada de uma amontoa, de efeitos extremamente benéficos, não só para aumentar o suporte dos próprios pés, como para estimular o crescimento de novas raízes que darão maior vigor ás plantas. O empalhamento da amontoa ajuda a manter o solo fresco e impede as invasoras.
Tirando algumas variedades anãs, as ervilhas são trepadoras inatas. Criam gavinhas que se enrolam em volta de qualquer apoio que encontrem. Então para evitar que se espalhem pelo chão e sejam devoradas por lesmas e caracóis, devem ser tutoradas.
Tradicionalmente, os horticultores usavam “canas de ervilhas”, cortadas de aveleira ou vidoeiro, para que pudessem trepar. Nem todos temos acesso a essas “canas”, mas podemos usar ramos vulgares, com 1,50-2 m, que se espetam no terreno a 25 cm uns dos outros quando as plantinhas atingirem os 20 cm, não mais tarde. Podemos também usar uma rede de malha larga, esticada e suportada por estacas. Para as variedades de ervilhas semianãs bastam ramos mais curtos ou estacas pequenas. As variedades anãs por vezes precisam de pequenos ramos de apoio.
No cultivo em vasos ou canteiros, será mais aconselhável escolher cultivares rasteiras ou de palha-baixa, que trepam até aproximadamente 1m. Se escolher variedades muito trepadoras, vai converter a varanda ou o terraço numa espécie de selva impenetrável. Seja qual for a variedade, é necessário pôr algum tipo de tutor. Pode ser uma cana, um fio etc. Quando as plantas atingirem a altura máxima do tutor, deve cortar-se a extremidade apical da planta (desponta), para impedir que esta cresça mais em altura, desenvolvendo-se as vagens nos caules existentes.
Rega
É necessário manter a frescura do solo, durante todo o período vegetativo das ervilhas. Contudo, a quantidade de água é variável em cada fase. Depois da sementeira, o excesso de água no solo pode retardar a nascença e auxiliar a podridão da semente. As ervilhas rugosas, possuidoras de um maior quantitativo de aguçar, são as mais suscetíveis às podridões e, portanto, as que se destroem com mais facilidade nos terrenos húmidos.
Na fase de crescimento da planta a rega em excesso vai dar origem à produção de muita folhagem. O solo deve estar húmido, mas sem não encharcado. Quando a planta estiver na fase de abertura das flores, seguindo-se o crescimento das vagens, a rega deve ser mais frequente, principalmente se o tempo estiver seco, de modo a manter o solo sempre húmido, mas sempre sem encharcar. A água deve ser aplicada entre as linhas sem molhar os pés das plantas
No cultivo em vasos os cuidados são os mesmos.
Colheita
Dependendo do clima, a colheita das ervilhas realiza-se entre 3 e 4 meses apos a sementeira e pode ser feita ao longo do tempo. As ervilhas-de-quebrar colhem-se quando as vagens estão imaturas, do tamanho pretendido e com as sementes muito pouco desenvolvidas. As ervilhas-de-grão colhem-se quando as sementes estão bem desenvolvidas nas vagens, mas ainda tenras e adocicadas.
Colher ervilhas de rápido crescimento, quando são pequenas e tenras tem vantagens, nomeadamente, mais sabor, alem de estimular a planta a produzir mais.
Utilize-as imediatamente depois da colheita, se possível, uma vez que quanto mais frescas forem, mais doces serão. Se precisar de as ter armazenadas durante algum tempo, tente fazer toda a colheita de manha cedo quando ainda esta fresco, e coloque as ervilhas diretamente do frigorifico.
Arrancar a parte do rebento superior de cada planta assim que as primeiras vagens estejam prontas, e colher regularmente, ira encorajar o desenvolvimento continuo de novas vagens.
Conservação
As ervilhas frescas em vagem conservam-se bem no frigorifico durante duas semanas. Congelada, aguenta vários meses. No caso de sementes secas se mantenham armazenadas, devem ser inspecionadas, periodicamente para se evitar a infestação por insetos. Se as guardar em frascos bem fechados, os insetos não vão ser um problema.
Benefícios para a horta
O cultivo das ervilhas melhora a estrutura do solo ao enriquecê-lo com nitrogénio (azoto), como acontece com o resto das leguminosas. Elas têm nas suas raízes um sistema de nódulos fixadores de nitrogénio e que lhes permite converter e usar o nitrogénio do ar. Estes nódulos são formados por colonias de bactérias (Rizobium leguminosarum e outras) que, depois de bem desenvolvidas, morrem cedendo à planta o nitrogénio elaborado. São autênticos fabricantes de adubos nitrogenados. O solo nessa zona fica bem enriquecido em nitrogénio que vai ser usado pela próxima cultura que não deve ser outra leguminosa.
- Plantas boas companheiras das ervilhas: aipo, batata, cenoura, couve-rábano, nabo e rabanete.
- Associação desfavorável – alho, alho-francês, cebola, chalota, salsa e tomate.
Valor nutricional das ervilhas
As ervilhas são uma fonte importante de proteínas, fibra dietética, sais mineras, oligoelementos e vitaminas A, B, C E C. Também são ricas em cálcio, fósforo, ferro e potássio. Contribuem para o controlo dos níveis de açúcar no sangue, a diminuição do colesterol e têm um alto poder antioxidante.
Variedades de ervilhas
O número de variedades de ervilhas que se conhece é enorme (mais de 200), e tradicionalmente estão distribuídas por três grupos distintos. As de trepar ou de palha-alta, semianãs ou de meia-palha e anãs, rasteiras ou de palha-baixa. Em qualquer destes grupos consideram-se as variedades de grão rugoso e as de grão liso, as de grão verde e as de grão amarelo ou branco. Há também a considerar as chamadas ervilhas-tortas que são utilizadas pela vagem, não coriácea, comprimida, grande e com sementes de pequenas dimensões.
Muitas vezes diferenciam-se por: ervilha-torta ou ervilha-de-quebrar, ervilha-de-grão e ainda pela duração do seu ciclo cultural, de precoces a tardias, sendo que as tardias precisam de mais calor para amadurecerem do que as precoces. As ervilhas também variam na cor das flores e na cor das vagens que podem ser verdes ou roxas.
É impossível descrever aqui todas as variedades de ervilhas. Vamos indicar apenas as mais cultivadas em Portugal e algumas que se distinguem por razões particulares.
Variedades Anãs ou Rasteiras
- Rondo – de grão rugoso, verde, vagem grande verde, direita, pontiaguda;
- Progresso n.°9 – idêntica à anterior, mas de vagem curva, verde azulada e mais temporã;
- Orgulho do Mercado – de grão liso, verde, semiprecoce;
- Maravilha da América – de grão rugoso, verde, precoce, servindo tanto para cultura extensiva como forçada;
- Petit Provençal – de grão redondo, precoce, rútica e produtiva. Semiverde e muito apreciada;
- Merveille de Kelvedon, Lincoln, Onward, Venus, Vittalis, Beagle, Sprite, Coronet – resistentes ao Oídio;
- Kalifa – uma das precoces mais lisas;
- Centurion, Lincoln, Orfeo – resistentes à Fusariose (Fusarium solani f. sp pisi; Fusarium oxysporum f. sp. Pisi).
Variedades de Meia-Palha
- Casusa ou ‘do Algarve’ – de grão liso, verde, precoce, produtiva;
- Verdeal – semianã;
- Chíchara – de grão rugoso, atingindo 80 centímetros de altura;
- Olho Preto – muito utilizada na Ilha da Madeira;
- Express e Alasca – precoce, de grão liso, boa para a industria de conservas;
- Genovesa-de-Meia-Palha – de grão liso, branco, muito produtiva.
Variedades de Trepar
- Telefone de Trepar – semitardia, produtiva e de elevada capacidade de adaptação. Vagens grossas, muito cheias de grão rugoso, verde, vagem enorme
- Gradus – de grão rugoso, precoce, vagem grande, ótima, servindo tanto para o mercado como para a indústria de conservas;
- Alderman – muito tardia e vigorosa. Vagens grandes e sementes rugosas de opima qualidade;
- Redonda – medianamente tardia, vigorosa e com longa produtividade. Sementes rugosas de ótima qualidade.
Variedades Tortas
- Carouby de Maussanne, Chifre de Carneiro – de flores brancas;
- Torta de Flor Roxa, Gigante de Moerheim – todas de trepar;
- Temporã de Holanda, Debèvè e De Grace – variedades de palha-baixa.