Aprenda como combater o aranhiço-vermelho de modo biológico

aranhiço-vermelho Panonychus ulmi

O nome “aranhiço-vermelho” é um pouco enganador, porque na realidade não se trata de uma aranha, é um ácaro. O aranhiço-vermelho (Panonychus ulmi) é um ácaro, da família dos Tetraniquídeos e é bastante frequente em Portugal. São minúsculos, difíceis de ver a olho nu, mas bastante vorazes. Podem ser uma verdadeira chatice tanto nas plantas da horta, na vinha, nas frutíferas e até nas plantas dentro de casa.

Existe outra espécie parecida que é conhecida como aranhiço-amarelo ou ácaro-aranha-de-duas-pintas (Tetranychus urticae). Os ciclos de vida são idênticos e os estragos nas culturas são idênticos. Embora o foco deste artigo seja o aranhiço-vermelho, também vamos fazer algumas referências ao aranhiço-amarelo. Os ciclos de vida, as características, plantas atacadas, os danos que causam e principalmente, como os combater de modo biológico.

Os ácaros-aranha estão entre as pragas mais comuns na horta e nos jardins. Assemelham-se a carrapatos e são menores que a cabeça de um alfinete. São considerados aracnídeos em vez de insetos por causa de suas oito pernas. Existem muitos tipos diferentes e com cores diferentes, mas os mais comuns são o aranhiço-vermelho e o aranhiço-amarelo.

Características e ciclo de vida

O aranhiço-vermelho é originário da Europa. Os adultos apresentam dimorfismo sexual, tornando-se possível identificar os dois sexos. As fêmeas, de cor vermelha escura, medem de 0,6 mm a 0,8 mm de comprimento e 0,25 mm de largura do corpo. Os machos, de cor amarela rosada a vermelha clara, apresentam o corpo em forma de pera, mais pequeno e estreito do que as fêmeas, com o aparelho bucal mais alongado e patas mais compridas. Nos dois sexos é característico surgirem filas de pelos esbranquiçados sobre o corpo dos adultos.

O ciclo de vida do aranhiço-vermelho divide-se em quatro estados: ovo, larva, ninfa e adulto. Os ovos de Inverno são vermelhos escuros, com especto de cebola e um pelo na parte superior. As posturas ocorrem a partir do fim do Verão. Na Primavera seguinte aparecem as larvas, com três pares de patas e comprimento de 0,3 mm a 0,4 mm e forma globosa, sem pelos dorsais.

aranhiço-vermelho e amarelo
Aranhiço-vermelho e amarelo

As ninfas têm quatro pares de patas e pelos dorsais mais ou menos desenvolvidos. Os adultos originados nos ovos de Inverno, dão início à primeira geração, através das posturas. No nosso país, podem verificar-se 6 a 10 gerações por ano. O ciclo de vida varia entre 15 e 35 dias, de acordo com as condições ambientais.

O aranhiço-amarelo tem um ciclo de vida semelhante ao aranhiço-vermelho, mas os ovos são esféricos e translúcidos. As larvas, arredondadas, possuem três pares de patas, enquanto que as ninfas têm quatro pares de patas. As fêmeas adultas, de cerca de 0,6 mm de diâmetro, são globosas, amarelas ou esverdeadas (nas gerações estivais) ou alaranjadas (nas formas invernantes), com manchas laterais mais escuras. Hiberna sob a forma de fêmea adulta, principalmente na vegetação espontânea, onde deposita os ovos, no início da primavera.

Plantas atacadas e danos causados pelo aranhiço-vermelho

Com as condições certas, praticamente qualquer planta pode ser atacada pelo aranhiço-vermelho. Contudo, algumas são mais suscetíveis do que outras. Entre as mais afetadas estão: pepino, melão, beringela, feijão, tomate, framboesas, pimento, morangos, vinha, cedro, sálvia, roseira, camélia, azália, entre outras.

De início, a presença da praga pode passar despercebida. Sem uma lupa é difícil vê-los em ação. Temos de aprender a reconhecer os primeiros sinais que aparecem nas folhas. Pontos acastanhados, amarelos ou brancos nas folhas. Teias brancas e sedosas que aparecem na parte inferior das folhas. Com o tempo, as folhas começam a ficar descoloradas, a enrolar e podem morrer.

Se a dimensão da colônia for pequena, os danos poderão ficar por aí. Mas, como eles conseguem reproduzir-se muito rapidamente, uma invasão pode em pouco tempo tornar-se devastadora e a planta ficar permanentemente danificada ou morrer.

Além de terem uma reprodução rápida, eles são perfeitamente capazes de migrar de uma planta para outra. A dispersão faz-se, principalmente, pelo contacto entre plantas, pelo arrastamento pelo vento isoladamente ou em folhas por eles ocupadas, pelo transporte fornecido por insetos e aves e pelo Homem, nas práticas culturais. Para além disso, estes ácaros formam teias nas folhas, a fim de reter a humidade e dificultar a ação de potenciais predadores.

aranhiço-vermelho em folhas de tomateiro
Aranhiço-vermelho em folhas de tomateiro

Inspecione a parte inferior das folhas afetadas com uma lupa para ver se consegue identificá-los. Segure um pedaço de papel branco em baixo das folhas e bata suavemente na planta para soltar os insetos. O aranhiço-vermelho é mais fácil de ver contra um fundo de cor clara.

Como prevenir esta praga.

A melhor maneira de prevenir os ataques do aranhiço-vermelho é por criar condições para que haja um bom equilíbrio biológico na sua horta. Eles têm muitos predadores naturais que, com as condições ideais, estão presentes para ajudar a controlar os aranhiços. Deve distribuir pelo espaço da horta, plantas que atraem os predadores naturais dos aranhiços como as Joaninhas, Crisopas, muitos ácaros predadores e muitos insetos das famílias dos antocorídeos, dos mirídeos, sirfídeos e outras. Até mesmo aranhas verdadeiras.

Aranha a comer aranhiço-vermelho

A prevenção também pode ser feita com plantas aromáticas que servem como repelentes do aranhiço-vermelho. Alecrim, hortelã, camomila, manjerona, tomilho, erva-príncipe e alcaravia.

Em plantas dentro de casa

O aranhiço-vermelho podem facilmente surgir nas plantas ornamentais dentro de casa, especialmente em períodos em que o ar está com uma humidade relativa baixa. É necessário aumentar os níveis de humidade ao redor das plantas dentro de casa. Em períodos em que o ar está seco, borrife regularmente as plantas com água. Além disso, é fundamental a verificação regular das folhas das plantas. Limpe o pó regularmente com um pano humedecido com água.

Se detetar a presença do aranhiço-vermelho numa planta, isole-a imediatamente, longe das outras plantas. Se as folhas forem resistentes e estiverem lisas, pode limpá-las com um pano molhado. Se isso não for possível, comece a podar a planta, removendo caules, folhas e outras partes infestadas. Tire todas as partes da planta com teias e livre-se delas de imediato no saco do lixo. Não coloque no compostor. Se a infestação já tiver atacado toda a planta, pode ser uma boa opção sacrificá-la para proteger as outras.

Plantas ornamentais e flores que repelem o aranhiço-vermelho: santolina e cróton petra (Codiaeum variegatum).

Como combater o aranhiço-vermelho

O combate ao aranhiço-vermelho é mais fácil quando a infestação ainda é pequena. Mas, como são tão pequenos, os sinais iniciais podem facilmente passar despercebidos e rapidamente temos um grande problema em mãos. Quanto maior for a colônia, mais protegidos estão. As teias servem de abrigo para se protegerem dos predadores naturais e também impedem que os tratamentos sejam mais eficazes. Temos de começar o combate por destruir ao máximo essas teias defensivas.

Dependendo das plantas atacadas, podemos recorrer a várias soluções que podem eliminar, ou pelo menos, reduzir ou controlar a infestação de aranhiço-vermelho. Se forem plantas resistentes, podemos recorrer a um jato de água fria direcionado às teias que virmos na planta. Isso vai, por si só, reduzir o número de aranhiços.

Inseticidas caseiros contra o aranhiço-vermelho

Um dos tratamentos mais usados contra o aranhiço-vermelho é o sabão inseticida. Veja aqui como fazer sabão inseticida. Borrife cuidadosamente, duas vezes por semana até que os aranhiços desapareçam.

O óleo de Neem também é eficaz contra o aranhiço-vermelho. Veja aqui como atua nos insetos e veja aqui como aplicar.

Spray de água com cebola e alho moídos. Triturar alguns dentes de alho e uma cebola. Juntar um litro de água e deixar repousar algumas horas. Coar e pulverizar sem diluir.

Spray de pimenta. Misture uma colher de sopa de pimenta-de-caiena num litro de água a ferver. Junte uma pequena bola de sabão neutro e mexa bem até dissolver o sabão. Deixe em repouso algumas horas. Coe e pulverize nas plantas.

Spray com óleos essenciais. Se tiver disponível, pode fazer uma mistura de água com óleos essenciais de plantas repelentes como o alecrim e a hortelã. Borrife sobre a praga.

A calda bordalesa também pode ser usada, mas é mais eficaz como tratamento preventivo contra o aranhiço-vermelho.

Em plantas de interior mais delicadas, pode usar um cotonete embebido numa mistura de água e álcool a 70%.

Antes de aplicar qualquer tratamento, deve primeiro testar numa pequena parte da planta. Cada planta pode reagir de forma diferente.  

De preferência faça os tratamentos ao fim do dia. Isso vai permitir que a humidade do tratamento não seque e possa atuar durante a noite. São não conseguir fazer a aplicação ao fim do dia, faça de manhã bem cedo antes de a temperatura começar a aquecer.

Não se esqueça de aplicar sempre em ambos os lados da folha, inferior e superior, qualquer que seja o método escolhido.

Por fim, fique sempre atento para a presença de ovos. Durante períodos de temperaturas altas, o aranhiço-vermelho deposita os ovos de forma contínua. É fundamental que repita os tratamentos e redobre os cuidados com as plantas infetadas. Se notar a presença de ovos (pequenos pontinhos brancos na parte inferior das folhas), deve podar de imediato folhas e destrui-las por completo.

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