Plantas perigosas que deve evitar ter em casa ou no jardim

Plantas perigosas Dedaleira Digitalis purpúrea

Plantas perigosas são todas as que no seu metabolismo produzem determinados compostos químicos que são tóxicos e provocam efeitos adversos quando ingeridos ou entram em contacto com seres humanos ou com animais. O grau de toxicidade pode variar e depender de vários fatores. A quantidade ingerida, a parte da planta (sementes, folhas, caule), estado de maturação dos frutos etc.

A grande maioria dos componentes ativos destas plantas perigosas são usados na medicina tradicional e na Fitoterapia em diversos países. Muitas vezes, esses usos são feitos com dosagens controladas cientificamente em laboratório. Apesar disso, têm vindo a crescer os casos de intoxicações graves provocadas por plantas perigosas a nível tóxico. Em alguns casos, a intoxicação é acidental ou por desconhecimento. Contudo, os estudos mais recentes mostram números preocupantes de pessoas que deliberadamente procuram usar as “propriedades medicinais” destas plantas e acabam por desenvolver doenças graves (em alguns casos fatais).

A título de exemplo, o relatório de 2020 da AAPCC (American Association of Poison Control Centers), reflete esta tendência. Entre os adultos, as intoxicações por tratamentos homeopáticos caseiros ou não homologados está entre as 5 maiores causas de intoxicação, 4,92%; nas crianças, o valor sobe para os 6,44%. Uma das causas para estes números pode estar na disseminação de informação errada sobre o uso das “medicinal” das plantas.

Neste artigo, pretendemos dar-lhe a conhecer 5 plantas que muitas vezes coabitam connosco como plantas ornamentais, que pela sua beleza podem ser vistas em parques e jardins e em zonas rurais como plantas espontâneas. Vamos apenas mencionar plantas perigosas que podem ser encontradas em território português, ou que, partes delas sejam vendidas em Portugal. É importante estar consciente de que “nem tudo o que é natural é bom”. Tocar ou ingerir plantas perigosas pode, em alguns casos, ser fatal.

Plantas perigosas

Plantas perigosas – Dedaleira (Digitalis purpúrea)

Plantas perigosas Dedaleira
Dedaleira (Digitalis purpúrea)

Entre as plantas perigosas presentes em Portugal, a Dedaleira é uma das mais comuns. Quase sempre cresce como espontânea nos campos e caminhos rurais, mas também é cultivada como planta ornamental em jardins. É uma planta bienal e lenhosa, da família das Plantaginaceae e tem diversas subespécies. As flores, de cor branca, amarela, vermelha ou púrpura, têm a forma caraterística de dedal ou de campainha. Não se deixe seduzir pela sua beleza.

As folhas, flores e sementes contem elevados teores de glicósidos e de heterósidos. O componente ativo, a digitalina é usada desde o século XVIII em fitoterapia e homeopatia no tratamento da insuficiência cardíaca e em disritmias cardíacas. Em doses homeopáticas, tem sido utilizado no controlo de ansiedade e de casos de extrassístoles. No entanto, é uma planta tóxica e com estreita «janela terapêutica» (a dose terapêutica esta muito próxima da dose que provoca toxicidade). Por isso, é cada vez menos utilizada como agente fitoterapêutico.

A sua utilização deve ser extremamente cuidada e criteriosa. A intoxicação pode acontecer por ingestão de folhas, de flores ou de sementes da planta. Os sintomas carateriza-se por vómitos, ardor na boca e na garganta, náuseas, tonturas, perturbações visuais e, em casos agravados, paragem cardiorrespiratória. Se suspeitar de uma intoxicação, deve dirigir-se a uma Hospital, pois a qualquer momento pode transformar-se numa situação clínica de emergência.

Plantas perigosas – Cicuta (Conium maculatum)

A cicuta é outra das plantas perigosas que existem em Portugal. Também é conhecida como: ansarinha-malhada, ansarinha-malhada, cegude, abioto, cicuta-maior, cicuta-de-Atenas, cicuta-terrestre, cicuta-oficinal, cicuta-ordinária. Existe mais do que uma espécie. Está espalhada por quase todo o pais e merece especial atenção pois está classificada como “espécie com veneno potencialmente letal”.

É uma planta herbácea da família das Apiáceas, com altura variável entre 1 a 2 metros e caraterizada pelo aspeto típico das flores, brancas e circulares a volta de uma haste. Os frutos são ovalados, de cor verde e medem entre os 3 e os 5 mm. A seiva liberta um odor desagradável. Aparece, espontaneamente, em locais húmidos. Na horta tem efeito repelente sobre as pragas, mas, tendo em conta a sua toxicidade, pondere bem se vale a pena ter.

Plantas perigosas Cicuta Conium maculatum
Cicuta (Conium maculatum)

Sob a perspetiva homeopática, é utilizada como sedativo, antiespasmódico e anti carcinogénico, ainda que a «janela terapêutica» seja muito restrita. Todas as partes da planta são muito venenosas por conterem cicutina (um alcaloide também conhecido por cicuta). A cicutina produz ardor na boca e garganta, náuseas, vómitos, diarreias, paralisia progressiva dos músculos e do tórax causando dificuldades respiratórias, esfriamento das extremidades, convulsões e paragem cardiorrespiratória. Os casos de intoxicação requerem hospitalização urgente.

Plantas perigosas – Ervilha-do-rosário (Abrus precatorius)

A ervilha-do-rosário é uma espécie do género botânico Abrus pertencente à família das Fabáceas e está incluída nas plantas perigosas. É oriunda da India e da Asia tropical, mas, atualmente pode ser encontrada em regiões tropicais e subtropicais.

Não é propriamente a planta em si que é perigosa, mas sim as sementes que tradicionalmente são usadas para fazer adornos, colares, rosários e em instrumentes de percussão. No entanto, também são usadas em homeopatia e em fitoterapia para o tratamento de doenças oftalmológicas e cutâneas.

As sementes alojam-se em pequenas vagens e são atraentes pela sua beleza. São ovais ou redondas, com dimensões semelhantes a ervilhas, de cor vermelha escarlate com uma mancha preta na base. Em Portugal, é frequente encontrar estas sementes em feiras e bancas de comércio artesanal, tanto isoladas como sob a forma de colares ou outros tipos de adornos. Também são vendidas em lojas online.

Se as comprar para fazer adornos artesanais, tem de ser extremamente prudente para não ser picado pelas agulhas que as perfuram. Não permita que as crianças brinquem com estas sementes e, muito menos, que as possam ingerir. As sementes contem na sua composição uma fitotoxina chamada Abrina que atua a nível celular. As manifestações dos sintomas da intoxicação dependem das vias de exposição (ingestão, inalação ou injeção) e da quantidade de toxina absorvida.

Os sintomas de intoxicação podem iniciar-se até 3 dias após a ingestão das sementes e manifestam-se por náuseas, vómitos, lesões na mucosa bucal e no esófago, dores abdominais, diarreia, hemorragia digestiva, hipotensão, alucinações, convulsões e falência renal. A injeção subcutânea manifesta-se por edema e equimose no local e, posteriormente, por Sépsis, por manifestações de lesão do Sistema Nervoso Central, por arritmias cardíacas e morte por fibrilação ventricular.

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Ervilha-do-rosário (Abrus precatorius)

Há relatos documentados de tentativas de suicídio com estas sementes encomendadas pela internet. Veja aqui um exemplo de uma tentativa de suicido com a ingestão de 10 sementes que deu origem a alguns dias nos cuidados intensivos. A maioria dos casos de ingestão destas sementes, não é intencional e ocorre em crianças.

Plantas perigosas – Trombeta-dos-anjos (Brugmansia arbórea) e Erva-do diabo (Datura stramonium)

Não poderíamos falar de plantas perigosas sem falar da Trombeta-dos-anjos também conhecida como Saia-da-velha. São plantas perenes, arbustos ou árvores de pequeno a médio porte. Membro da família das Solenáceas, é nativa da Bolívia, Colômbia e Peru. Em Portugal são cultivadas com objetivos ornamentais e caraterizadas por flores tubulares e pendentes de grandes dimensões, brancas, amarelas ou rosadas, e frutos sem cápsulas espinhosas. Durante a noite, as flores libertam um perfume agradável e intenso.

A erva-do-diabo também pertence ás Solenáceas e também está na lista das plantas perigosas, sendo que, está classificada como planta invasora. São plantas anuais, herbáceas e rasteiras, caraterizadas por flores eretas, tubulares, frequentemente brancas, e frutos envolvidos por cápsula espinhosa.

A beleza das flores destas plantas pode ser enganadora, são as duas altamente tóxicas. Tanto as folhas como as sementes contêm alcaloides tropânicos farmacologicamente ativos: a hiosciamina, a atropina, a escopolamina e outros derivados do tropano. Contêm ainda: acetona, ácido acético, ácido aconítico, ácido ascórbico, acido cafeico, acido cítrico, acido clorogenio, acido esteárico, acido ferúlico, ácido fórmico, ácido fumárico, ácido láctico, ácido linoleico, acido málico, ácido succínico, butanol, álcool etílico, escutelina, flavonoides, nicotina, nitrato de potássio, etc. A escopolamina é o alcaloide mais importante nas plantas jovens, enquanto a hiosciamina predomina nas plantas mais velhas.

Plantas perigosas Trombeta-dos-anjos Brugmansia arbórea Erva-do diabo Datura stramonium
Trombeta-dos-anjos Brugmansia arbórea / Erva-do diabo Datura stramonium

As intoxicações podem ser acidentais, ocorrendo em crianças ou animais, por ingestão de quaisquer componentes da planta. Também durante a poda ou em contacto com a seiva podem ocorrer intoxicações. Estão documentados casos de ingestão intencional com consequências fatais. Veja aqui um exemplo ocorrido na ilha da Madeira em 2006.

Em situações de sobredosagem, os sintomas manifestam-se rapidamente, com náuseas e vómitos, alterações de comportamento, alucinações visuais ou auditivas, pele quente e seca, secura das mucosas, midríase, agitação psicomotora e taquicardia, depressão neurológica, depressão cardiorrespiratória e morte. No caso de contacto da seiva com os olhos, é possível que surja midríase (dilatação pupilar) ou anisocoria (diâmetro desigual das pupilas).

Nota – Vários artigos no nosso site falam das propriedades medicinais e terapêuticas de várias plantas. Essas informações são meramente indicativas. Qualquer uso medicinal ou terapêutico das plantas deve ser acompanhado por um especialista credenciado e devem sempre ser respeitadas as dosagens indicadas.

Importante

Em caso se suspeita de alguma intoxicação por contacto ou ingestão de plantas perigosas, não hesite em contactar o Centro de Informação Antivenenos (CIAV) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) que tem à disposição uma linha telefónica gratuita – 800 250 250.

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