Como cultivar Poejo na horta caseira – guia prático

poejo (Mentha pulegium)

Se procura uma planta aromática e medicinal fácil de manter, resistente e muito útil na horta biológica, o Poejo é uma excelente escolha. Esta planta, típica do clima mediterrânico, adapta-se bem ao território português, incluindo regiões mais quentes e secas do sul, mas também áreas húmidas e frescas do norte e ilhas. Além de ser uma erva aromática apreciada em infusões e na gastronomia tradicional, o Poejo é também um aliado da saúde e pode ter um papel benéfico no equilíbrio natural da horta.

Origem e descrição do Poejo

O poejo (Mentha pulegium) pertence à família das Lamiáceas, a mesma da hortelã, alecrim e tomilho. É uma planta perene, de pequeno porte, que cresce geralmente até 30-40 cm de altura. Apresenta caules rastejantes ou ligeiramente eretos e folhas pequenas, ovais e verde-acinzentadas, de aroma intenso e característico. As flores, geralmente lilases ou rosadas, surgem no verão e são bastante atrativas para abelhas e outros polinizadores.

Originário da região mediterrânica e de partes da Ásia, o poejo foi, desde a Antiguidade, usado tanto como erva medicinal como aromática. O seu nome vem do latim pulegium, associado ao uso ancestral da planta como repelente de pulgas.

Distribuição em território português

Em Portugal, o poejo encontra-se espontaneamente em diversas regiões, sobretudo em locais húmidos, margens de ribeiros e terrenos temporariamente alagados. É especialmente comum no Alentejo e Ribatejo, onde o poejo faz parte da tradição culinária, sendo usado em pratos típicos como as famosas açordas de poejo.

No Norte, aparece em zonas ribeirinhas mais frescas, mas menos abundantemente. No Centro está presente em áreas húmidas de vale. No Algarve, adapta-se bem, sobretudo em terrenos próximos de linhas de água.

Nas ilhas, tanto nos Açores como na Madeira, o poejo encontra condições ideais devido à humidade e aos solos férteis, crescendo de forma natural em vários locais.

Solo ideal para cultivo

Para quem deseja aprender como cultivar poejo, o solo é um fator essencial a considerar. Apesar de crescer espontaneamente em margens húmidas, a planta adapta-se bem ao cultivo em horta caseira se houver atenção a alguns pontos:

  • Humidade: prefere solos frescos e ligeiramente húmidos, mas não encharcados.
  • Textura: solos franco-argilosos ou franco-arenosos são os mais adequados.
  • Matéria orgânica: responde bem a solos enriquecidos com composto caseiro ou estrume bem curtido, que melhoram a fertilidade.
  • pH: o ideal situa-se entre 6,0 e 7,0, ou seja, um solo ligeiramente ácido a neutro.

Se o terreno for demasiado seco, é aconselhável melhorar a retenção de água com matéria orgânica e manter uma camada de cobertura morta (mulch).

Época de plantio ou sementeira por região de Portugal

A escolha da época certa para plantar ou semear Poejo é fundamental para garantir uma boa germinação e desenvolvimento saudável da planta. Como se trata de uma espécie que aprecia solos frescos e húmidos, mas não suporta encharcamentos prolongados, a adaptação ao clima de cada região de Portugal influencia bastante o calendário de cultivo. Além disso, o Poejo pode ser multiplicado tanto por semente como por estaca, sendo esta última uma forma prática de obter plantas vigorosas e idênticas à planta-mãe.

  • Norte e Centro: o clima mais fresco e sujeito a geadas exige que a sementeira seja feita a partir de março, quando as temperaturas já estão mais estáveis. O transplante de mudas ou estacas deve ser feito na primavera, evitando o frio intenso do inverno.
  • Sul (Alentejo e Algarve): devido ao clima mais ameno, é possível iniciar a sementeira já em fevereiro. A propagação por estaca é muito bem-sucedida nesta região, sobretudo no início da primavera, quando as temperaturas são suaves mas a humidade ainda é suficiente.
  • Açores e Madeira: nestas ilhas, as temperaturas moderadas e a elevada humidade permitem cultivar Poejo quase todo o ano. No entanto, a primavera continua a ser a época mais indicada para garantir plantas mais robustas.

Como fazer a sementeira

A sementeira do poejo pode ser feita em tabuleiros ou diretamente no solo.

  • Preparar o substrato: use uma mistura leve de terra de horta, composto e areia.
  • Sementeira em tabuleiros: distribua as sementes à superfície e cubra com uma fina camada de terra peneirada. Regue com cuidado.
  • Transplante: quando as plântulas atingirem 6 a 8 cm, transplante-as para a horta, mantendo cerca de 25 cm entre plantas.
  • Sementeira direta: em solos leves e férteis, pode lançar as sementes diretamente, mas a germinação pode ser menos uniforme.

Uma alternativa prática é a propagação por estacas ou divisão de touceiras, que garante plantas mais vigorosas e rápidas a desenvolver-se.

Poejo Mentha pulegium em vaso

Propagação por estaca

A propagação por estaca é uma das formas mais simples e rápidas de multiplicar a planta. Para isso, devem cortar-se ramos jovens e saudáveis, com cerca de 8 a 10 cm, retirando as folhas da base. As estacas devem ser colocadas em substrato leve e húmido (mistura de terra, areia e composto), mantendo o recipiente em local abrigado e luminoso, mas sem sol direto. Em poucas semanas, surgem raízes e a planta pode ser transplantada para a horta. Esta técnica é bastante prática para hortas caseiras, porque garante plantas idênticas às de origem e permite multiplicar Poejo sem depender da germinação das sementes, que pode ser menos uniforme.

Cuidados culturais

Para que esta aromática se desenvolva de forma saudável e produza folhas aromáticas de qualidade, é importante seguir alguns cuidados culturais adaptados às condições de cada horta caseira. Embora seja uma planta resistente e de fácil cultivo, a sua preferência por solos húmidos e frescos exige alguma atenção na rega e no controlo do ambiente em redor.

  • Rega: aprecia humidade constante no solo, mas não tolera encharcamentos prolongados. O ideal é manter uma rega regular, sobretudo durante os meses quentes e secos, como no verão do Alentejo e Algarve. No Norte e nas ilhas, a rega pode ser mais espaçada devido à maior humidade natural.
  • Cobertura do solo: a aplicação de mulch (palha, folhas secas ou restos de poda triturados) é muito útil para conservar a humidade, proteger as raízes e reduzir o crescimento de ervas espontâneas.
  • Adubação: uma adição anual de composto orgânico ou estrume bem curtido é suficiente para manter o solo fértil. Adubos químicos devem ser evitados, pois podem alterar o aroma característico da planta e reduzir os seus benefícios medicinais.
  • Poda: cortar os ramos após a floração ajuda a manter a planta compacta, a estimular novos rebentos e a prolongar o ciclo de vida produtivo.
  • Localização: adapta-se bem a locais soalheiros ou de meia-sombra, sendo preferível que receba sol direto apenas durante algumas horas do dia, sobretudo nas regiões mais quentes.
  • Renovação da planta: após alguns anos, a planta pode perder vigor. Nestes casos, é aconselhável renovar o canteiro através da divisão de touceiras ou por estacas, garantindo plantas jovens e produtivas.

Com estes cuidados, o Poejo cresce de forma equilibrada, mantendo-se saudável e pronto para fornecer folhas frescas ou secas ao longo de várias estações.

Colheita

A colheita pode ser feita à medida das necessidades, retirando folhas frescas. Para secagem, o ideal é colher antes da floração, quando a concentração de óleos essenciais é maior.

  • Colheita para consumo imediato: corte pequenas porções, sem retirar toda a planta.
  • Colheita para secagem: corte ramos inteiros, lave e seque à sombra, em local arejado. Depois, guarde em frascos de vidro bem fechados.

Com bons cuidados, uma planta pode durar vários anos, renovando-se após cada poda.

Pragas e doenças que afetam a planta

É relativamente resistente, mas pode ser afetado por algumas pragas e doenças comuns em hortas caseiras:

  • Pulgões: sugam a seiva das folhas, provocando deformações.
  • Mosca-branca: inseto que se aloja na parte inferior das folhas, causando fraqueza da planta.
  • Ácaros: em climas muito secos, podem atacar folhas jovens.
  • Fungos (oídio, míldio): surgem em ambientes muito húmidos e pouco arejados.
  • Podridão radicular: devido a encharcamento do solo.

Alguns preparados simples podem ser usados em casa para proteger o a planta:

  • Infusão de alho: repelente contra pulgões e ácaros. Ferva 10 dentes de alho em 1 litro de água, deixe arrefecer e pulverize.
  • Macerado de urtiga: fortalece a planta e afasta insetos. Coloque 100 g de urtigas em 1 litro de água durante 48 horas, coe e aplique.
  • Infusão de cavalinha: ajuda a prevenir fungos como oídio. Ferva 50 g de cavalinha em 1 litro de água durante 20 minutos, deixe repousar e pulverize semanalmente.
  • Sabão Inseticida: eficaz contra pulgões e mosca-branca. Diluir e aplicar diretamente sobre as pragas.
Flores de Poejo Mentha pulegium

Benefícios na horta

Além de ser útil para o consumo humano, desempenha funções importantes na horta biológica:

  • Atrai polinizadores: as flores atraem abelhas e outros insetos úteis.
  • Aroma intenso: pode ajudar a repelir pragas de culturas vizinhas.
  • Cobertura do solo: as suas raízes rastejantes ajudam a proteger o solo contra erosão.
  • Diversidade biológica: aumenta o equilíbrio ecológico da horta.

Benefícios para a saúde

O poejo é valorizado pelas suas propriedades medicinais:

  • Digestivo: alivia problemas de indigestão e gases.
  • Expectorante: útil em infusões para tosse e bronquite.
  • Relaxante: ajuda a acalmar nervosismo e insónias leves.
  • Antisséptico: usado tradicionalmente em lavagens e gargarejos.

⚠️ Nota: o consumo excessivo pode ser tóxico devido à presença de pulegona (80-86%). Deve ser usado com moderação e nunca em doses elevadas ou por grávidas.

Uso da planta

A planta tem múltiplos usos na vida quotidiana:

  • Na cozinha: em sopas, açordas, molhos e infusões.
  • Na medicina popular: em chás e xaropes caseiros.
  • Como repelente natural: historicamente usado para afastar pulgas e insetos.
  • Na horta: como já referido, desempenha funções ecológicas importantes.

Conclusão

Aprender como cultivar poejo na horta caseira é uma excelente forma de integrar uma planta tradicional, aromática e medicinal ao cultivo biológico. Com poucos cuidados, adapta-se bem às condições de Portugal continental e ilhas, oferecendo benefícios para a saúde, para a cozinha e para o equilíbrio da horta. Além disso, é uma planta com forte ligação cultural à gastronomia e tradição popular portuguesa, tornando-se uma presença valiosa em qualquer horta familiar.

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