As pragas da cenoura são um dos maiores desafios para quem cultiva esta raiz saborosa e nutritiva numa horta biológica. Apesar de ser uma cultura relativamente resistente, a cenoura está sujeita ao ataque de insetos e pequenos animais que podem comprometer o desenvolvimento das plantas e reduzir drasticamente a colheita. Quem já cultivou cenouras sabe bem como é frustrante arrancar uma raiz aparentemente saudável e descobrir galerias, buracos ou sinais de apodrecimento provocados por pragas.
Neste guia, reunimos as principais pragas da cenoura em Portugal — incluindo ilhas como Madeira e Açores — explicando como as identificar, que danos causam e quais as melhores formas de prevenir e controlar a sua presença de forma natural, sem recorrer a químicos nocivos. A ideia é que qualquer horticultor — seja iniciante ou mais experiente — consiga proteger a sua horta aplicando medidas práticas e sustentáveis, garantindo colheitas saborosas e livres de contaminações.
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Por que é importante conhecer as pragas da cenoura
As cenouras crescem debaixo da terra, o que torna difícil perceber, a tempo, quando estão a ser atacadas. Muitas vezes, o horticultor só descobre a presença de pragas da cenoura na altura da colheita, quando encontra raízes deformadas, com galerias internas ou em mau estado.
Ao identificar os sintomas precocemente e aplicar técnicas de prevenção, é possível reduzir significativamente os estragos. Além disso, ao apostar em soluções biológicas, protege-se a saúde do solo e mantém-se o equilíbrio natural da horta.
Principais pragas da cenoura
Mosca da Cenoura (Psila rosae)
A mosca-da-cenoura é uma das pragas da cenoura mais destrutivas. Os adultos depositam ovos junto às plantas e, quando as larvas eclodem, alimentam-se das raízes, abrindo túneis que comprometem o crescimento e deixam a cenoura com aspeto pouco apelativo.
Sinais de ataque:
- Folhas amareladas ou avermelhadas.
- Plantas com crescimento lento.
- Raízes com túneis escuros e galerias internas.

Prevenção e controlo biológico:
- Instalar redes anti-insetos sobre os canteiros.
- Fazer rotação de culturas e não repetir cenouras ou outras Apiáceas no mesmo local por pelo menos 3 anos.
- Semear intercalando com cebola, alho ou alho-francês, cujos odores ajudam a repelir a praga.
- Colocar armadilhas cromáticas amarelas para capturar adultos.
- Colher cenouras no ponto certo, evitando deixá-las demasiado tempo na terra.
Nematoides das Galhas (Meloidogyne spp.)
Os nematoides das galhas são pequenos vermes que atacam as raízes, causando nódulos que deformam a cenoura e dificultam a absorção de nutrientes.
Sinais de ataque:
- Raízes deformadas, com inchaços e galerias.
- Plantas com crescimento lento e folhas amareladas.
Prevenção e controlo biológico:
- Rotação de culturas, incluindo leguminosas e cereais.
- Plantar adubos verdes (mostarda, centeio) que reduzem a presença de nematoides.
- Solarizar o solo no verão, cobrindo-o com plástico transparente para reduzir a população de nematoides.
- Escolher variedades de cenoura mais resistentes.
Pulgões (Afídeos)
Os pulgões, pequenos insetos sugadores, podem instalar-se nas folhas da cenoura, enfraquecendo a planta e transmitindo viroses. Embora sejam mais visíveis na parte aérea, são uma das pragas da cenoura a não subestimar.
Sinais de ataque:
- Folhas enroladas e pegajosas devido à melada excretada pelos pulgões.
- Presença de formigas, que se alimentam da melada e protegem os pulgões.
Prevenção e controlo:
- Atrair insetos auxiliares, como joaninhas e crisopas, que se alimentam de pulgões.
- Pulverizar infusões de alho ou pulverizar com sabão inseticida.
- Evitar excesso de azoto na adubação, que favorece o aparecimento destas pragas.
Lesmas e caracóis
Embora não ataquem diretamente a raiz, lesmas e caracóis consomem as folhas jovens, comprometendo o crescimento inicial da planta. Esta é uma das pragas da cenoura mais comuns em zonas húmidas ou com muita sombra.
Sinais de ataque:
- Folhas com grandes buracos irregulares.
- Presença de muco brilhante nas plantas e no solo.
Prevenção e controlo:
- Recolher manualmente durante a noite ou em dias húmidos.
- Usar armadilhas de cerveja enterradas no solo.
- Manter a horta limpa, evitando esconderijos como pedras e restos vegetais.

Gorgulho da cenoura (Sitona spp.)
O gorgulho da cenoura é um pequeno besouro cujas larvas se alimentam das raízes, criando galerias semelhantes às da mosca-da-cenoura, mas geralmente mais superficiais.
Sinais de ataque:
- Pequenos orifícios nas raízes.
- Folhas com marcas em meia-lua, causadas pelos adultos ao roerem as bordas.
Prevenção e controlo:
- Incentivar aves insetívoras no espaço da horta.
- Retirar restos de culturas após a colheita para reduzir locais de hibernação.
- Cobrir os canteiros com malha fina protetora.
Boas práticas para reduzir as pragas da cenoura
A prevenção é sempre o caminho mais eficaz quando se fala em pragas da cenoura, sobretudo em cultivo biológico. As boas práticas culturais variam consoante as condições de cada região de Portugal, pelo que é importante adaptar a horta ao clima e ao solo disponível para reduzir a pressão das pragas da cenoura.
- No Norte de Portugal (clima húmido e fresco): as chuvas frequentes favorecem o aparecimento da mosca-da-cenoura e de lesmas, duas das principais pragas da cenoura nesta região. Nestes casos, é fundamental apostar numa boa drenagem do solo, em canteiros elevados e protegidos, para evitar encharcamentos. A cobertura com redes anti-insetos ajuda a travar a postura das moscas, enquanto barreiras naturais, como cinza de madeira ou serradura, reduzem as lesmas que também atacam a cultura.
- No Centro de Portugal (zonas de transição, clima mais equilibrado): aqui o risco das pragas da cenoura é variado. A rotação de culturas ganha particular importância, já que muitos hortelãos mantêm as mesmas parcelas cultivadas ano após ano, o que favorece a propagação de insetos e nematoides. Alternar cenouras com leguminosas ou alfaces ajuda a quebrar o ciclo das pragas. A rega deve ser controlada — em excesso atrai fungos e em défice enfraquece a planta, tornando-a mais vulnerável às pragas da cenoura.
- No Sul de Portugal (clima quente e seco): a maior ameaça às cenouras são os nematoides, considerados uma das pragas da cenoura mais difíceis de eliminar. Eles prosperam em solos arenosos e pobres em matéria orgânica. Para reduzir o impacto, recomenda-se incorporar bastante composto ou estrume bem curtido, que melhora a fertilidade e favorece a vida microbiana que combate naturalmente os nematoides. A prática de sementeiras mais precoces, aproveitando a humidade residual da primavera, ajuda a evitar as pragas típicas do verão e diminui a pressão das pragas da cenoura.
- Nas Regiões Autónomas (Açores e Madeira): o clima ameno durante todo o ano permite várias sementeiras, mas também facilita a permanência contínua das pragas da cenoura. Nestas ilhas, o uso de associações de culturas é altamente eficaz — plantar cenouras próximas de cebolas ou alhos ajuda a repelir a mosca-da-cenoura. Além disso, como a produção é muitas vezes em pequena escala, a vigilância constante é a chave: identificar logo os primeiros sinais permite agir sem necessidade de tratamentos repetidos contra as pragas da cenoura.

De forma geral, práticas como a cobertura com manta térmica, a sementeira em locais arejados, a adubação orgânica equilibrada e o controlo manual devem ser integradas em qualquer horta. A soma destas medidas torna as cenouras mais resistentes e reduz de forma significativa as pragas da cenoura ao longo do ciclo de cultivo.
Conclusão
As pragas da cenoura representam um desafio real para quem cultiva esta raiz deliciosa na horta biológica. No entanto, com observação atenta, técnicas preventivas e o recurso a soluções naturais, é possível proteger a cultura sem recorrer a químicos agressivos.
Ao apostar em práticas sustentáveis — como rotações, associações e incentivo da biodiversidade — não só se garante uma colheita mais abundante, como também se preserva a saúde do solo e o equilíbrio do ecossistema da horta.
Assim, cultivar cenouras livres de pragas torna-se não apenas possível, mas também um exercício de respeito pela natureza e pelo alimento que chega à mesa.
























