Como cultivar e usar a Stevia: guia completo

Cultivar Stevia

A Stevia é uma planta cada vez mais procurada por quem deseja alternativas naturais ao açúcar. Além de ser fácil de cultivar em modo biológico, adapta-se bem ao clima português, seja no Norte, no Sul ou até nas ilhas da Madeira e Açores. Ter Stevia na horta caseira é uma excelente forma de desfrutar de um adoçante saudável, económico e sempre disponível. Neste artigo, vamos guiá-lo passo a passo sobre como cultivar Stevia, desde a escolha do solo até à colheita, passando pelos cuidados necessários para garantir plantas fortes e produtivas.

Origem e descrição da planta

A Stevia (Stevia rebaudiana) é originária da América do Sul, mais concretamente do Paraguai e Brasil. Os povos indígenas já a utilizavam há séculos para adoçar infusões e como planta medicinal. É uma planta perene, de pequeno porte, que pode atingir entre 40 a 80 cm de altura. As suas folhas são a parte mais preciosa, pois contêm os glicosídeos de esteviol, responsáveis pelo sabor doce, até 300 vezes mais intenso do que o do açúcar.

Com folhas verdes e pequenas flores brancas que surgem no verão, a Stevia é uma planta bonita e discreta, que pode ser cultivada tanto na horta como em vasos ou floreiras, sendo perfeita para quem dispõe apenas de uma varanda ou pequeno espaço exterior.

Solo ideal para cultivo

A Stevia prefere solos leves, bem drenados e ricos em matéria orgânica. Em solos muito argilosos, onde a água tende a acumular-se, as raízes podem apodrecer. Para garantir um bom desenvolvimento, recomenda-se:

  • Textura do solo: franco-arenosa, que assegura drenagem e ao mesmo tempo mantém a humidade necessária.
  • pH: ligeiramente ácido a neutro (entre 6 e 7).
  • Preparação: incorporar composto bem curtido ou húmus de minhoca antes da plantação.

Se cultivar em vaso, opte por um substrato universal de qualidade, enriquecido com matéria orgânica e misturado com areia grossa para evitar encharcamentos.

Flores de Stevia

Época de plantio ou sementeira por região de Portugal

A Stevia é uma planta que gosta de calor e não tolera bem o frio intenso. Por isso, a época ideal para o plantio varia conforme a região do país:

  • Norte de Portugal: devido ao clima mais húmido e frio, a sementeira deve ser feita em estufa ou em tabuleiros protegidos a partir de março, transplantando-se para a horta em maio ou junho.
  • Centro e Sul: pode semear ou plantar no exterior a partir de abril, quando já não há risco de geadas.
  • Madeira: clima ameno durante todo o ano, permitindo plantar em quase qualquer estação, embora a primavera seja a mais recomendada.
  • Açores: semelhante ao Norte de Portugal, com vantagem da humidade constante; plantar a partir da primavera garante melhores resultados.

Como fazer a sementeira

Embora seja possível cultivar Stevia a partir de sementes, estas têm baixa taxa de germinação. Uma alternativa prática é a multiplicação por estacas, que garante plantas mais vigorosas.

Passo a passo da sementeira:

  • Prepare tabuleiros com substrato leve e húmido.
  • Espalhe as sementes à superfície, sem enterrá-las demasiado (necessitam de luz para germinar).
  • Pulverize água de forma suave para não deslocar as sementes.
  • Cubra com plástico transparente ou coloque numa mini-estufa para manter a humidade.
  • A germinação pode demorar de 1 a 3 semanas.

Multiplicação por estacas:

  • Corte ramos jovens com cerca de 10 cm.
  • Retire as folhas inferiores e coloque num copo com água ou diretamente em substrato húmido.
  • Após 2 a 3 semanas, as raízes começam a formar-se, podendo transplantar para vasos ou para a horta

Cuidados culturais

A Stevia, apesar de ser resistente, necessita de alguns cuidados para crescer saudável e produtiva:

  • Rega: gosta de humidade, mas sem encharcamento. No verão, regar 2 a 3 vezes por semana, ajustando consoante o clima.
  • Exposição solar: prefere locais com sol direto, pelo menos 6 horas por dia. Em zonas muito quentes, pode beneficiar de sombra parcial durante as horas de maior calor.
  • Adubação: usar composto orgânico ou chorume de urtiga a cada 4 a 6 semanas para estimular o crescimento.
  • Poda: cortar as pontas regularmente favorece o desenvolvimento de mais folhas e uma planta mais densa.

Colheita

A colheita da Stevia deve ser feita quando a planta está em plena produção de folhas, geralmente no verão, antes da floração. É nessa fase que a concentração de glicosídeos é maior.

  • Como colher: cortar os ramos com tesoura de poda, deixando a planta com cerca de 10 a 15 cm acima do solo para que volte a rebentar.
  • Secagem: pode secar as folhas à sombra, em local bem ventilado, ou em desidratador. Depois, basta triturá-las para usar como adoçante em pó.

Pragas e doenças que afetam a Stevia

Embora a Stevia seja considerada uma planta relativamente resistente, especialmente quando cultivada em modo biológico e em boas condições, pode ser atacada por algumas pragas e doenças comuns nas hortas portuguesas. Reconhecer os sintomas cedo é fundamental para evitar a perda de produtividade e garantir plantas saudáveis.

Principais pragas

  • Afídeos (pulgões):
    São pequenos insetos verdes, pretos ou amarelos que sugam a seiva das folhas e rebentos jovens. As plantas atacadas apresentam folhas enroladas, deformadas e com uma textura pegajosa, devido à secreção de melada. Esta melada pode ainda atrair formigas e favorecer o desenvolvimento de fungos negros (fumagina). O problema é mais frequente na primavera e no início do verão.

  • Mosca-branca:
    Pequenos insetos brancos que se escondem na parte inferior das folhas. Alimentam-se da seiva, provocando amarelecimento e enfraquecimento geral da planta. Assim como os afídeos, produzem melada que atrai fungos. São mais comuns em estufas ou zonas de clima quente e seco, como o Alentejo ou Algarve durante o verão.
  • Ácaros (como o ácaro vermelho):
    Surgem sobretudo em ambientes muito secos e quentes. Provocam pequenas manchas amareladas nas folhas, que acabam por secar e cair. As plantas ficam debilitadas e com crescimento reduzido. Em casos graves, é possível observar pequenas teias nas folhas e caules.
  • Caracóis e lesmas:
    Embora não sejam pragas específicas da Stevia, podem atacar as folhas mais tenras, deixando buracos irregulares. Este problema é mais frequente em zonas húmidas e sombrias, como acontece em muitos jardins do Norte de Portugal e dos Açores.

Principais doenças

  • Oídio:
    É um fungo que se manifesta como um pó branco aveludado sobre as folhas. Ocorre em situações de má ventilação e humidade elevada, principalmente na primavera e outono. Se não for controlado, pode reduzir drasticamente a produção de folhas.
  • Míldio:
    Outra doença fúngica comum em hortas húmidas. Provoca manchas amareladas ou acastanhadas nas folhas, que depois secam. Aparece com mais frequência em verões chuvosos ou em solos mal drenados.
  • Podridão radicular:
    Surge quando a planta é cultivada em solos encharcados. As raízes começam a apodrecer, a planta perde vigor e pode acabar por morrer. É um problema especialmente relevante em solos argilosos mal drenados ou em vasos sem orifícios de escoamento.
  • Manchas foliares fúngicas:
    Podem surgir em folhas mais velhas, apresentando-se como pequenas manchas castanhas ou negras. Embora nem sempre causem grandes estragos, reduzem a vitalidade da planta e tornam-na mais suscetível a outros problemas.

Prevenção geral

Para reduzir o risco de pragas e doenças na Stevia, algumas práticas simples são muito eficazes:

  • Garantir boa drenagem do solo ou substrato.
  • Evitar o excesso de rega e de humidade no ar.
  • Manter a rotação de culturas na horta, não cultivando sempre no mesmo local.
  • Realizar podas leves para melhorar a circulação de ar entre as plantas.
  • Utilizar adubos orgânicos equilibrados, evitando excesso de azoto, que deixa as plantas mais sensíveis a pragas.

Combate biológico às pragas e doenças da Stevia

Na horta biológica, o objetivo é proteger a Stevia usando métodos naturais que respeitam o equilíbrio do ecossistema. Aqui estão soluções práticas e eficazes para cada problema comum:

Afídeos: pulverizar com infusão de alho ou sabão de inseticida.

Mosca-branca: colocar armadilhas cromáticas amarelas junto às plantas.

Ácaros: pulverizar com chá de camomila ou infusão de cavalinha.

Fungos: aplicar leite diluído em água (10%) ou infusão de alho, que têm ação antifúngica

Uso da planta

As folhas de Stevia podem ser usadas de várias formas:

  • Frescas: diretamente em infusões, esmagando ligeiramente antes de colocar na água quente.
  • Secas: trituradas em pó para adoçar chás, bolos ou sobremesas.
  • Extrato caseiro: preparado com água ou álcool alimentar, obtendo um adoçante líquido mais concentrado.
adoçante stevia

Benefícios para a saúde

O maior destaque da Stevia está no seu uso como adoçante natural sem calorias. O seu consumo regular pode trazer várias vantagens para a saúde e o bem-estar, tornando-se uma alternativa sustentável e segura ao açúcar refinado.

  • Alternativa saudável ao açúcar: a Stevia é até 300 vezes mais doce do que o açúcar, mas não contém calorias. Isto permite adoçar bebidas e alimentos sem aumentar o aporte calórico, o que é útil para quem pretende controlar o peso ou reduzir o consumo de açúcares simples.
  • Aliada dos diabéticos: como não provoca picos de glicemia, é uma excelente opção para pessoas com diabetes ou que necessitam de controlar os níveis de açúcar no sangue.
  • Não provoca cáries: ao contrário do açúcar, a Stevia não alimenta as bactérias da boca, ajudando a prevenir cáries e outros problemas dentários.
  • Fonte de antioxidantes: as folhas possuem compostos antioxidantes que ajudam a proteger as células contra os radicais livres, prevenindo o envelhecimento precoce.
  • Equilíbrio da pressão arterial: alguns estudos apontam que o consumo regular de Stevia pode ajudar a moderar a tensão arterial em pessoas com hipertensão leve.

Como usar a Stevia em casa

Uma das grandes vantagens de cultivar Stevia é poder colher e preparar os adoçantes de forma caseira, sem recorrer a processos industriais. Eis algumas formas práticas:

  • Folhas frescas: podem ser usadas diretamente em chás ou infusões. Basta esmagar algumas folhas e adicioná-las à água quente, deixando repousar.
  • Folhas secas: depois de colhidas, as folhas podem ser secas à sombra, em local ventilado. Quando bem secas, guardam-se num frasco hermético para uso prolongado.
  • Stevia em pó caseira:
    1. Colha as folhas maduras antes da floração.
    2. Lave e deixe secar completamente.
    3. Triture as folhas secas num moinho de café ou num processador até obter um pó verde.
    4. Guarde em frasco de vidro bem fechado.
      Este pó pode ser usado para adoçar bolos, iogurtes, chás ou outras receitas.
  • Extrato líquido caseiro:
    1. Coloque folhas frescas ou secas num frasco de vidro.
    2. Cubra com álcool alimentar (como vodka) e deixe repousar 24 a 36 horas.
    3. Coe e leve ao lume em banho-maria durante alguns minutos, para evaporar parte do álcool.
    4. O resultado é um adoçante líquido mais concentrado, que pode ser usado gota a gota.
  • Cubinhos de Stevia: uma forma prática de conservar é preparar um chá concentrado de folhas secas, deixar arrefecer e congelar em cuvetes de gelo. Assim, sempre que precisar, basta derreter um cubinho para adoçar bebidas.

Com estas técnicas simples, é possível aproveitar ao máximo a Stevia da horta, mantendo a naturalidade e evitando adoçantes artificiais.

Conclusão

Cultivar Stevia na horta biológica é uma forma prática e saudável de ter sempre à mão um adoçante natural, amigo da saúde e do ambiente. Adaptando-se bem ao clima português, desde que protegida das geadas e do excesso de humidade, esta planta pode ser uma excelente adição à horta caseira, seja em espaço amplo ou num simples vaso na varanda. Com os cuidados certos e algumas colheitas ao longo do ano, terá folhas doces e naturais para substituir o açúcar em várias receitas do dia a dia.

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