O Hipericão do Gerês (Hypericum androsaemum L.), uma planta nativa da Península Ibérica, especialmente valorizada em Portugal, é reconhecida tanto pelas suas propriedades medicinais como pelo seu valor ornamental. Cultivar Hipericão do Gerês na horta biológica caseira é uma experiência gratificante, que permite ter acesso direto a uma planta útil, resistente e decorativa. Neste artigo, vamos explorar em detalhe as características desta planta, como a cultivar de forma sustentável em diferentes regiões de Portugal e os múltiplos benefícios que pode trazer para a horta e para a saúde.
Tópicos neste artigo
Características do Hipericão do Gerês
O Hipericão do Gerês, também conhecido como Erva-mijadeira, Mijadeira, Erva-da-pedra ou Androsemo, é uma planta perene pertencente à família Hypericaceae. Caracteriza-se por ser um arbusto de pequeno a médio porte, com alturas que variam entre 30 cm e 1,2 metros.
As folhas são ovaladas e opostas, de cor verde escura, com uma textura ligeiramente coriácea. As flores surgem entre junho e setembro, são amarelas brilhantes, com cinco pétalas e numerosos estames. Após a floração, formam-se bagas ovais, inicialmente vermelhas, que vão escurecendo para o preto à medida que amadurecem.
É uma planta robusta e resistente, adaptada a diferentes tipos de solos, embora prefira os bem drenados e ricos em matéria orgânica. É tolerante ao frio e pode sobreviver a geadas ligeiras, mas também suporta períodos de seca uma vez estabelecida.
Encontra-se naturalmente em várias regiões de Portugal.
Regiões do Norte: Predomina nas regiões montanhosas e húmidas do Norte de Portugal, particularmente na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês, de onde deriva o seu nome comum. Estas áreas são caracterizadas por altitudes mais elevadas, precipitação abundante e temperaturas amenas.
Regiões do Centro: Pode ser encontrado em matas e florestas de carvalhos, especialmente em áreas com solos bem drenados e ricos em matéria orgânica. Também é comum em zonas ribeirinhas e margens de rios, onde a humidade do solo é constante.

Regiões do Sul: No sul de Portugal, incluindo o Alentejo e Algarve, a presença do Hipericão do Gerês é menos comum devido ao clima mais seco. No entanto, pode ser encontrado em áreas sombreadas e húmidas, como vales e barrancos, onde as condições são mais favoráveis à sua sobrevivência.
Regiões Insulares: Nas ilhas dos Açores e Madeira, o Hipericão do Gerês adapta-se bem às condições de humidade elevada e solos vulcânicos ricos em nutrientes, crescendo frequentemente em florestas Laurissilva e outros habitats subtropicais.
Solo ideal para o cultivo
Prefere solos bem drenados, ricos em matéria orgânica. Adapta-se tanto a solos ácidos como ligeiramente alcalinos, desde que a drenagem seja adequada. A planta tem dificuldade em prosperar em solos excessivamente compactados ou encharcados, onde a falta de oxigênio pode levar ao apodrecimento das raízes e ao desenvolvimento de doenças fúngicas.
Para o cultivo biológico em horta caseira, recomenda-se:
- Misturar o solo com composto orgânico bem decomposto.
- Evitar zonas de encharcamento, criando canteiros elevados se necessário.
- Incorporar folhas secas trituradas ou palha para melhorar a estrutura do solo e manter a humidade sem excesso.
Como fazer a sementeira e a multiplicação
Semear o Hipericão do Gerês em casa é um processo relativamente simples, mas que ganha melhores resultados quando se respeitam algumas regras básicas. A sementeira pode ser feita diretamente no solo ou em tabuleiros/vasos para posterior transplante.
- Preparação do substrato – Escolha um substrato leve, fértil e bem drenado. Uma boa mistura pode ser terra de jardim, composto bem curtido e areia grossa em partes iguais.
- Sementeira – As sementes devem ser espalhadas à superfície e cobertas apenas com uma fina camada de substrato, já que precisam de alguma luz para germinar.
- Rega – Deve ser suave e frequente, mantendo a humidade sem encharcar. O uso de um borrifador ajuda a não deslocar as sementes.
- Local – O tabuleiro ou vaso deve ser colocado em local iluminado, mas protegido de sol direto nas primeiras semanas.
- Germinação – Normalmente ocorre em 2 a 4 semanas. Assim que as plântulas estiverem fortes, podem ser transplantadas para o local definitivo.
Multiplicação por estacas
Além da sementeira, o Hipericão do Gerês pode ser facilmente multiplicado por estacas, um método muito utilizado em horticultura biológica por garantir plantas idênticas à original e de crescimento mais rápido.

- Para isso, deve cortar-se um ramo saudável, semi-lenhoso, com cerca de 10 a 15 cm, preferencialmente no verão, quando a planta está em plena atividade.
- Retiram-se as folhas da parte inferior da estaca e esta deve ser colocada num vaso com substrato leve e bem drenado, composto por areia grossa e composto orgânico.
- O vaso deve ser mantido em local iluminado, mas protegido do sol direto, e a rega deve ser regular, de modo a manter o substrato sempre húmido sem encharcar.
- Ao fim de algumas semanas, formam-se raízes e a nova planta poderá ser transplantada para a horta ou para um local definitivo no jardim.
Cuidados culturais
O cultivo biológico do Hipericão do Gerês é relativamente simples, pois trata-se de uma planta robusta e resistente. No entanto, alguns cuidados práticos fazem toda a diferença para que cresça saudável, floresça com intensidade e se mantenha produtiva durante muitos anos.
Melhorar a fertilidade do solo à medida que a cobertura se decompõe. bonito durante muitos anos.
Exposição solar – Prefere locais de meia-sombra a sol pleno.
- Norte e Centro – Pode ser cultivado a sol pleno, pois beneficia da maior humidade atmosférica.
- Sul – Deve ser colocado em locais que recebam sombra parcial, especialmente durante as horas de maior calor.
- Açores e Madeira – Desenvolve-se bem em meia-sombra, aproveitando a elevada humidade natural.
Rega – Embora seja tolerante à seca, gosta de humidade moderada.
- Norte – A rega é geralmente dispensável fora dos períodos de calor extremo.
- Centro e Sul – No verão, deve receber regas semanais, preferencialmente ao final da tarde, para evitar evaporação.
- Ilhas – Regar apenas em períodos de estiagem, uma vez que a humidade natural costuma ser suficiente.
Adubação – Uma aplicação anual de composto bem curtido ou estrume no final do inverno é suficiente. Quem cultiva em vaso deve renovar parcialmente o substrato a cada 2 anos.
Poda – A poda ligeira, realizada no final do inverno ou logo após a floração, ajuda a renovar a planta e a estimular o crescimento de ramos jovens.
- Se o objetivo for um arbusto compacto e ornamental, pode-se podar com mais frequência.
- Se a prioridade for o uso medicinal, a poda deve ser mínima, apenas para retirar ramos velhos ou danificados.
Cobertura do solo (mulching) – A utilização de palha, folhas secas trituradas ou casca de pinheiro à volta da planta ajuda a:
- Manter a humidade,
- Proteger as raízes do calor no verão e do frio no inverno,
- Reduzir o crescimento de ervas daninhas,
- Melhorar a fertilidade do solo à medida que a cobertura se decompõe.
Colheita
A colheita do Hipericão do Gerês deve ser feita com cuidado, respeitando o ciclo natural da planta e aproveitando cada parte no momento ideal. O segredo é colher sem comprometer a vitalidade do arbusto, garantindo colheitas nos anos seguintes.
As bagas podem ser usadas frescas em preparados caseiros ou transformadas em tinturas para conservação mais longa.ade de uma só vez, permitindo que a planta se regenere e continue a produzir nos anos seguintes.
Flores – Devem ser colhidas de junho a setembro, no auge da floração.
- Como colher – Utilizar uma tesoura de poda afiada, cortando apenas as flores abertas e evitando retirar demasiadas de uma só vez.
- Dica biológica – Colher de manhã, depois de o orvalho evaporar, para preservar os óleos essenciais.
Folhas – Podem ser recolhidas ao longo da primavera e verão.
- Devem ser escolhidas folhas verdes e saudáveis, evitando as mais velhas ou danificadas.
- Após a colheita, devem ser secas em local arejado e sem luz solar direta.
Bagas – Colhem-se no final do verão e início do outono, quando estão maduras e de cor negra.
- Em Portugal Continental, a época ideal é entre agosto e setembro.
- Nos Açores e Madeira, a colheita pode prolongar-se até outubro devido ao clima mais ameno.

Quantidade
É sempre aconselhável colher apenas parte da produção, deixando flores e bagas suficientes para a regeneração natural e para os polinizadores que se alimentam delas.
Armazenamento
- Flores e folhas secas devem ser guardadas em frascos de vidro escuro, em local fresco e seco.
- As bagas podem ser usadas frescas em preparados caseiros ou transformadas em tinturas para conservação mais longa.
Pragas e doenças
Afídeos (pulgões)
Os afídeos, também conhecidos como pulgões, são uma das pragas mais comuns que podem afetar o Hipericão do Gerês. Estes pequenos insetos sugadores multiplicam-se rapidamente, sobretudo na primavera e início do verão, quando as temperaturas são amenas e existe abundância de rebentos novos.
Sintomas principais:
- Folhas enroladas ou deformadas devido à sucção da seiva.
- Presença de pequenos insetos de cor verde, preta ou amarela na parte inferior das folhas ou nos rebentos jovens.
- Melada (uma substância açucarada e pegajosa) deixada pelos afídeos, que atrai formigas e pode favorecer o desenvolvimento de fungos como a fumagina (um bolor negro).
Causas e fatores de risco:
- Plantas jovens ou debilitadas são mais vulneráveis.
- Excesso de adubos ricos em azoto, que estimulam rebentos muito tenros.
- Ausência de insetos auxiliares como joaninhas, crisopídeos e sirfídeos, que são predadores naturais dos pulgões.
Prevenção biológica:
- Evitar adubações excessivas com azoto, privilegiando adubos equilibrados e bem decompostos.
- Promover a biodiversidade na horta, plantando flores como calêndulas, alfazema e funcho, que atraem predadores naturais.
- Vigiar regularmente a planta, sobretudo na primavera, para detetar infestações logo no início.
Tratamentos naturais:
- Sabão de inseticida – Pulverizar o sabão inseticida diretamente sobre as colónias de pulgões. O sabão dissolve a camada protetora dos insetos e elimina-os sem prejudicar a planta.
- Infusão de alho ou cebola – Atua como repelente natural. Pulverizar semanalmente em caso de infestação.
- Chorume de urtiga – Fortalece a planta e ajuda a afastar os pulgões. Preparar o chorume de urtigas frescas em água durante alguns dias e aplicar diluída.
- Introdução de joaninhas – Sempre que possível, incentivar a presença destes insetos benéficos, que são grandes consumidores de afídeos.
Ferrugem
A ferrugem é uma doença causada por fungos do género Puccinia e outros semelhantes, que afetam as folhas e, em casos graves, podem enfraquecer bastante a planta. No Hipericão do Gerês, a ferrugem manifesta-se sobretudo em ambientes húmidos e pouco arejados, sendo mais frequente nas regiões do Norte e nas ilhas, onde a precipitação é elevada.
Sintomas principais:
- Pequenas manchas alaranjadas ou acastanhadas na parte inferior das folhas.
- Amarelecimento progressivo da parte superior da folha.
- Queda prematura da folhagem quando a infeção é intensa.
Causas e fatores de risco:
- Excesso de humidade no solo ou no ar.
- Plantas muito juntas, sem boa circulação de ar.
- Rega excessiva nas folhas, especialmente ao final do dia.
Prevenção biológica:
- Plantar o Hipericão do Gerês em locais bem ventilados.
- Evitar regar diretamente sobre as folhas; preferir a rega junto à base da planta.
- Retirar e queimar folhas afetadas para evitar a propagação.
- Reforçar a saúde da planta com aplicação anual de composto orgânico bem curtido.
Tratamentos naturais:
- Extrato de cavalinha – Rica em sílica, ajuda a fortalecer os tecidos da planta e a tornar as folhas mais resistentes a fungos. Pulverizar o extrato de cavalinha semanalmente durante períodos de risco.
- Calda bordalesa caseira – a calda bordalesa pode ser aplicada preventivamente em casos de surtos recorrentes, mas sempre em doses moderadas.
- Extrato de alho – Atua como antifúngico natural. Preparar uma infusão forte e pulverizar as folhas afetadas.
Benefícios de ter a planta na horta
Ter o Hipericão do Gerês na horta não é apenas útil pelas suas propriedades medicinais. A planta desempenha várias funções positivas no ecossistema da horta caseira:
- Biodiversidade – Contribui para equilibrar o ambiente natural da horta, criando refúgio para insetos auxiliares.
- Atrai polinizadores – As flores amarelas chamam abelhas e outros insetos benéficos.
- Protege o solo – A sua cobertura ajuda a evitar erosão em taludes ou zonas inclinadas.
- Estética – É uma planta decorativa, que embeleza a horta com flores e bagas coloridas.
Benefícios para a saúde
O Hipericão do Gerês é conhecido desde a Antiguidade pelas suas aplicações medicinais, sendo uma planta de grande valor na fitoterapia popular em Portugal.
- Diurético – Tradicionalmente usado como apoio ao sistema urinário.
- Digestivo – As infusões ajudam a aliviar desconfortos digestivos ligeiros.
- Anti-inflamatório – Usado externamente em cataplasmas para pequenas inflamações e feridas.
- Relaxante – Infusões leves podem ajudar no alívio da ansiedade e do stress.
É importante lembrar que, apesar dos seus benefícios, o consumo deve ser feito de forma moderada e informada. Pessoas sob medicação regular devem consultar um profissional de saúde antes de usar a planta com fins medicinais.
Uso da planta
O Hipericão do Gerês pode ser utilizado de várias formas no dia a dia, sempre de forma natural e caseira:
- Infusões – Preparadas com folhas ou flores secas.
- Tinturas – Feitas a partir das bagas maduras maceradas em álcool.
- Cataplasmas – Aplicados externamente com folhas esmagadas.
- Ornamental – Para embelezar jardins e hortas, especialmente em sebes baixas ou bordaduras.
Conclusão
O Hipericão do Gerês é uma planta versátil, resistente e cheia de benefícios, tanto para a horta como para a saúde. Fácil de cultivar em Portugal, adapta-se bem às diferentes regiões do país, incluindo as ilhas, desde que lhe sejam dadas condições de solo bem drenado e alguma humidade.
Ao optar pelo cultivo biológico desta planta, está não só a enriquecer a horta com uma espécie medicinal e ornamental, como também a contribuir para a preservação de uma tradição profundamente enraizada na cultura portuguesa.
Com os cuidados certos, o Hipericão do Gerês pode tornar-se uma presença duradoura e valiosa no seu espaço de cultivo, oferecendo beleza, saúde e equilíbrio ao longo dos anos.




























