O estragão é uma das ervas aromáticas mais apreciadas na culinária e também na fitoterapia, mas nem sempre é valorizado nas hortas caseiras portuguesas. Aprender como cultivar esta aromática de forma biológica é uma oportunidade para enriquecer a horta com uma planta versátil, de fácil manutenção e bastante adaptável ao clima português, incluindo as regiões insulares da Madeira e dos Açores. Além do seu sabor característico, que combina notas doces e ligeiramente anisadas, o estragão oferece benefícios para a saúde e contribui para a biodiversidade da horta, atraindo insetos polinizadores e repelindo algumas pragas.
Neste guia detalhado, vamos explorar tudo o que precisa de saber para cultivar estragão com sucesso em Portugal, desde a escolha do solo e a época ideal de plantio até à colheita e utilização da planta.
Tópicos neste artigo
Origem do Estragão e Variedades
O estragão (Artemisia dracunculus) é uma planta perene da família das Asteráceas, a mesma das margaridas e dos girassóis. Atinge entre 60 cm e 1,2 m de altura e tem folhas estreitas, de um verde vibrante e muito aromáticas. O seu nome, dracunculus, que significa “pequeno dragão”, pode estar relacionado com a forma sinuosa das suas raízes.
Existem duas variedades principais, cada uma com características distintas:
- Estragão Francês (Artemisia dracunculus var. sativa): Considerado o mais nobre, é a variedade preferida na alta culinária. Tem um aroma e sabor mais intensos, com notas a anis. Raramente produz sementes férteis, por isso, é propagado através de estacas ou divisão de touceiras.
- Estragão Russo (Artemisia dracunculus var. dracunculoides): É uma variedade mais rústica e resistente a condições adversas. O seu sabor é menos intenso e pode ser ligeiramente amargo. Esta variedade produz sementes viáveis, o que facilita a sua propagação.
Embora não seja uma planta nativa de Portugal, o estragão adapta-se facilmente à maioria das nossas regiões, do norte ao sul e nas ilhas, desde que tenha as condições certas.
Solo ideal para cultivo
Para garantir uma boa produção, é importante ter alguns cuidados na preparação do solo:
Exposição solar: o estragão adora o sol. Escolha um local na sua horta que receba bastante luz. No entanto, em regiões muito quentes, como no Alentejo ou Algarve, a planta beneficia de alguma sombra nas horas de maior calor para evitar que as folhas sequem ou queimem.
Textura: prefere solos leves e bem drenados. Os solos argilosos devem ser corrigidos com composto ou areia grossa para melhorar a drenagem.

pH: ligeiramente alcalino ou neutro (entre 6,5 e 7,5). Em solos demasiado ácidos, é útil adicionar calcário agrícola em pequenas doses.
Fertilidade: deve ser rico em matéria orgânica, mas sem excesso de azoto, que pode reduzir a intensidade do aroma das folhas. O uso de composto caseiro ou estrume bem curtido é ideal.
Dica prática: Antes de plantar, teste a drenagem do solo. Regue e veja se a água escoa rapidamente. Solos encharcados prejudicam as raízes.
Época de plantio ou sementeira por região de Portugal
O momento certo para plantar estragão depende bastante do clima local.
- Norte de Portugal: a plantação deve ser feita na primavera, depois do risco de geadas. A sementeira em tabuleiros pode iniciar-se em março, com transplante em abril ou maio.
- Centro e Sul de Portugal: pode ser plantado mais cedo, a partir de fevereiro em zonas abrigadas. Em regiões quentes, é possível plantar até ao início do outono.
- Açores: devido ao clima húmido e ameno, pode ser cultivado quase todo o ano, sendo recomendável evitar apenas o período de maior chuva.
- Madeira: graças ao clima subtropical, o estragão pode ser cultivado em qualquer época, desde que se evitem zonas com excesso de humidade no solo.
Como fazer a sementeira ou propagação
O método de multiplicação depende da variedade:
- Estragão francês: não produz sementes férteis, devendo ser propagado por estacas ou divisão de touceiras.Corte estacas com cerca de 10 cm e coloque-as em substrato leve para enraizarem. A divisão da touceira, que é a forma mais eficaz, consiste em separar com cuidado a planta-mãe em partes e replantá-las.
- Estragão russo: pode ser semeado diretamente no solo ou em tabuleiros. As sementes são muito pequenas, por isso, semeie superficialmente e não as enterre demasiado. Mantenha o substrato sempre húmido.
Passos para uma boa sementeira:
- Escolher um tabuleiro ou vaso com substrato leve e rico em composto.
- Espalhar as sementes de forma homogénea, sem enterrar demasiado.
- Pulverizar água para manter a humidade.
- Cobrir com uma película transparente até à germinação.
- Transplantar quando as plântulas atingirem 10-15 cm.
Cuidados culturais
Depois de estabelecido, o estragão é uma planta de fácil manutenção, mas requer alguns cuidados:
- Rega: deve ser moderada. O solo deve manter-se ligeiramente húmido, mas nunca encharcado. No verão, regar com mais frequência em regiões secas.
- Poda: recomenda-se cortar regularmente os caules para estimular o crescimento de novas folhas. a poda após a floração ajuda a prolongar a vida da planta.
- Adubação: reforçar com composto orgânico uma vez por ano, preferencialmente no início da primavera.
- Rotação de culturas: idealmente, não plantar estragão no mesmo local por mais de 3-4 anos para evitar o esgotamento do solo.
Dica: Plante estragão perto de tomates ou alfaces para melhorar o sabor e proteção natural dessas culturas.

Colheita
A colheita pode começar a partir do segundo ano de cultivo, quando a planta já está bem estabelecida.
- Folhas frescas: devem ser colhidas regularmente, de preferência antes da floração, quando o aroma é mais intenso.
- Secagem: os ramos podem ser colhidos e secos à sombra, em local ventilado, para armazenar as folhas durante o inverno.
- Armazenamento: para conservar o estragão para o inverno, colha os ramos e pendure-os em molhos num local escuro, seco e bem ventilado. Depois de secas, retire as folhas e guarde-as em frascos herméticos, ao abrigo da luz e da humidade.
Apesar de ser uma erva aromática robusta, o estragão não está totalmente livre de pragas e doenças, sobretudo quando cultivado em hortas biológicas caseiras em Portugal, onde as condições de humidade e temperatura podem variar bastante entre regiões. Em climas mais quentes e secos, surgem frequentemente ácaros e mosca-branca, enquanto em zonas húmidas ou com solos mal drenados é comum aparecer a podridão radicular. Mesmo pragas generalistas como os pulgões podem instalar-se e enfraquecer a planta ao sugar a seiva.
Entre as doenças, o oídio é a mais habitual, deixando um aspeto esbranquiçado nas folhas e diminuindo a sua qualidade aromática. Evite regas excessivas e melhore a circulação de ar à volta da planta. Uma solução de leite diluído em água (10% leite, 90% água) pode ser usada como preventivo.
Conhecer estas ameaças é fundamental para agir cedo e recorrer a métodos de prevenção e controlo biológicos, mantendo o cultivo saudável e sustentável.
Vantagens do Estragão na Horta Biológica
Esta aromática é um excelente aliado no cultivo biológico. É uma planta companheira que ajuda a manter a sua horta saudável de várias formas:
- Repelente Natural: O seu aroma ajuda a afastar pragas como pulgões e moscas-brancas.
- Atrai Polinizadores: As suas flores, mesmo que discretas, são um íman para abelhas e outros insetos benéficos, essenciais para a polinização de outras culturas.
- Melhora o Sabor: Quando cultivado perto de plantas como o tomate, cenoura ou alface, o estragão pode melhorar o sabor destas culturas.
Benefícios para a saúde
O consumo da planta traz várias vantagens:
- Digestivo: estimula a produção de sucos gástricos e ajuda na digestão.
- Antioxidante: combate radicais livres.
- Anti-inflamatório: usado em chás para aliviar dores leves.
- Calmante: auxilia no relaxamento e combate a insónias.
- Vitaminas e minerais: rico em vitamina A, C e manganês.
Uso da planta
- Infusões: chá de estragão usado para digestão e relaxamento.
- Conservação: folhas podem ser usadas para aromatizar vinagres e óleos.
- Remédio natural: tradicionalmente usado como estimulante do apetite e para aliviar dores de dentes.
- Culinária: essencial em pratos de frango, peixe, saladas e molhos, como o famoso molho béarnaise. O vinagre de estragão, obtido por uma infusão em vinagre de rebentos frescos, é uma das formas mais tradicionais e simples de conservar e aproveitar esta planta aromática. Além de realçar pratos de carne, peixe, saladas e legumes, é também uma maneira prática de prolongar o sabor do estragão durante todo o ano.
Como fazer vinagre de estragão em casa
Ingredientes
- 500 ml de vinagre branco de boa qualidade (pode ser de vinho branco ou de sidra, mas nunca vinagres muito fortes que abafem o aroma).
- 2 a 3 ramos frescos de estragão (de preferência colhidos antes da floração, quando estão mais aromáticos).
Utensílios
- Um frasco ou garrafa de vidro com tampa bem fechada.
- Um funil (opcional).
- Um frasco escuro para conservar o vinagre depois de pronto (ajuda a manter o sabor).
Passos
- Colher e preparar – Lave os ramos frescos e seque-os bem com um pano limpo ou papel absorvente. É importante que não fiquem húmidos para evitar contaminações.
- Encher o frasco – Coloque os ramos dentro do frasco ou garrafa de vidro.
- Adicionar o vinagre – Despeje o vinagre até cobrir completamente as folhas. Certifique-se de que não ficam bolhas de ar.
- Fechar e repousar – Tape bem o frasco e deixe repousar num local fresco e escuro durante 2 a 3 semanas. Quanto mais tempo ficar, mais intenso será o sabor.
- Filtrar e armazenar – Passado esse tempo, coe o vinagre para retirar os ramos e transfira-o para uma garrafa limpa (preferencialmente escura). Se quiser, pode colocar um novo ramo fresco de estragão dentro da garrafa para intensificar o aroma e dar um toque decorativo.
Dicas
- Use sempre vinagre de boa qualidade, porque ele vai influenciar diretamente o sabor final.
- Se preferir um sabor mais suave, pode retirar os ramos ao fim de 10 dias.
- Este vinagre conserva-se facilmente durante vários meses, desde que guardado em local fresco e protegido da luz.
Conclusão
Aprender como cultivar estragão é investir numa planta aromática de grande valor culinário, medicinal e ecológico. Seja no continente ou nas ilhas, esta erva adapta-se bem desde que tenha solo bem drenado, luz adequada e cuidados básicos de manutenção. Além de enriquecer a horta com aroma e beleza, contribui para uma alimentação mais saudável e natural.
Se procura diversificar a sua horta biológica, o estragão é uma excelente escolha que trará benefícios tanto à mesa como à sua horta.



























